Discurso de posse

DISCURSO PROFERIDO PELO ESCRITOR NICODEMOS NAPOLEÃO, NA SEDE DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS, POR OCASIÃO DE SUA POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO CEARÁ – ALMECE.

20 DE AGOSTO DE 2005.

Sr. Presidente da ALMECE e demais Autoridades

Em pouco mais de seis meses que freqüento este sodalício concluí com inabalável convicção que aqui tumultuam as mais fervilhantes idéias e rumorejam as mais autênticas vozes da literatura cearense. Não obstante a incontestabilidade dessa assertiva, descobri que aqui também há lugar para os humildes, mercê do convite que me foi formulado para dele participar. Os predicados vistos neste singelo escriba emanam, muito mais, da bondade de dois ilustres amigos, que de meus próprios méritos: Metom Maia e Silva e Neusemar Gomes de Moraes, expressões grandiloqüentes do conhecimento acadêmico, exemplos inexcedíveis de honrados cidadãos.

Escrever ou falar em público constitui-se, indubitavelmente, numa árdua tarefa, sobretudo quando a emoção fala mais alto que as pulsações do coração. Por isso invoco as forças extraordinárias que se escondem atrás dos sentimentos, para dizer a todos os amigos que aqui vieram, indistintamente, uma palavra de gratidão pelo nobre gesto da amizade que dignifica e do companheirismo que engrandece.

Senhoras e Senhores! Não julgueis que venho trazer-vos a palavra fácil ou a eloqüência arrebatadora de multidões ou ainda uma substanciosa dissertação erudita. Há palavras que são belas, elevadas, nobres, amorosas, elegantes, faustosas, aristocráticas. Trago-vos, porém, a palavra simples, sem luxo e sem ostentação, porque nascida, de acordo com a feliz expressão de Raul Pompéia, na “estufa de carinho do amor doméstico”, tão bem administrada por meu pai e minha mãe, “as últimas palavras que sempre me restarão na alma”.

Confesso que chegar a uma Academia de Letras, notadamente a que congrega os mais lídimos representantes dos municípios cearenses, constituiu-se num passado não muito remoto, numa distante miragem que agora se transforma em realidade autêntica e insofismável. Tudo isso, entretanto, não é fruto do fulgor da inteligência, nem do entusiasmo da minha juventude de cinqüenta e dois anos, mas, é fruto, sobretudo da minha obstinação, aquela tenacidade que é capaz de transpor os umbrais do conhecimento ainda que o destino reserve os mais temidos e inexoráveis limites. A incumbência da qual me revisto neste instante não me dá o condão da vaidade sadia e construtiva, notadamente porque sei da grande responsabilidade de representar dignamente o meu município que já teve o privilégio de ser representado por um dos mais valorosos homens de letras do Ceará, meu companheiro de ideais e de sonhos, o poeta Dimas Macedo.

Ainda que a emoção jorre como a água que jorra do seio da terra, ainda que as palavras sejam pequeninos pontos incapazes de traduzir qualquer sentimento, externo a mais pura gratidão a minha terra, o pequeno-grande município de Alto Santo que, desde os primórdios, quando ainda dormitava no silêncio da barbárie até nossos dias, tem despertado na gratidão dos valorosos filhos, na benevolência das famílias, na madrugada dos agricultores, no sonho dos seus poetas, no reconhecimento dos vultos históricos, tão bem retratados por Fanca Nogueira Magalhães, entre os quais se destacam o Cel. Gregório de Figueiredo Barbalho, o Capitão Simplício de Holanda Bezerra, o ex-Prefeito José Machado Nogueira, o Advogado Francisco de Assis Rabelo Pereira e tantos outros que, cada qual a seu tempo, fizeram nascer uma centelha de amor que ainda hoje reverbera nos corações daqueles que os sucederam ou fazem parte do seu cotidiano. Esse alvorecer de um novo tempo não seria possível se não fosse a incomensurabilidade da participação da mulher, desde Quitéria Freire, Urcesina Moura Cantídio, Edite Maia Machado, Ana Moura Nogueira e, falando mais próximo do coração, aquela que se propôs a uma missão sublime, constituir comigo uma família: a Professora Graça Conrado, minha esposa, que me deu um primoroso presente que nenhuma riqueza é capaz de suplantar: meus filhos Narcélio Giordanny e Nino Giovanny. Muito obrigado.

Nicodemos Napoleão

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NOTA: Ao final o orador fez uma homenagem à sua professora de Português no Ginásio Alexandrino Diógenes, Josenir Bezerra Bessa e ao Monsenhor Célio Conrado de Souza (em memória).

NAPOLEÃO, Nicodemos Gomes. Obstinação Sertaneja. Fortaleza: LC Gráfica, 2008, p-20

Nicodemos Napoleão
Enviado por Nicodemos Napoleão em 26/10/2006
Reeditado em 06/07/2009
Código do texto: T274302
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