Colação de Grau (1)

Só as almas iluminadas pela generosidade são capazes de atitudes de benevolência, demonstradas sobejamente pelas minhas colegas e meus colegas do curso de Administração de Empresas (turno da manhã) ao me escolherem para representá-los nesta solenidade e para dar meu singelo nome à turma, quando muitos outros poderiam dignificá-la e engrandecê-la melhor. O gesto da confiança suscita em mim, mais que uma vaidade, a responsabilidade de tudo fazer para merecer tais honrarias, símbolo inexcedível e demonstração inequívoca de que este lugar também é dos humildes.

Se me perguntarem quem sou, eu direi apenas que sou jovem, pois juventude não é uma cronologia, mas um estado de espírito; minha vocação é construir o futuro, meu objetivo é semear sonhos e esperanças, minha missão é cultivar ideais. Não é demais repetir os grandes pensadores. E um desses privilegiados disse que “o ideal não se define, enxerga-se por clareiras que dão para o infinito” (2).

Em meio às luzes benfazejas desse infinito vislumbra-se claramente a nossa missão nos horizontes longínquos de um novo amanhã da história. Para atingi-la é necessário não parar jamais. O direito de cursar uma faculdade nesse país ainda é privilégio de uma minoria. O futuro da juventude é relegado a planos inferiores, a construção de um novo amanhã não constitui prioridade alguma. Os governantes dão primazia à agiotagem internacional em detrimento do nosso futuro. Diante de tão contundentes verdades, não podemos ser meros agentes do derrotismo ou do fracasso. Mesmo com direitos elementares absurdamente negados a milhões, não devemos nos deixar enlear nas malhas do pessimismo, pois a história está recheada de exemplos dignificantes de pessoas que, com dedicação, conseguiram galgar os mais altos degraus. Entre eles o de Machado de Assis. Embora fazendo parte da estatística de milhões de jovens que não cursaram uma faculdade, através do amor incomensurável aos livros, conseguiu granjear o mais alto posto a que um intelectual pode almejar: o de Presidente da Academia Brasileira de Letras, sendo também exemplo para os jovens administradores. As manhãs primaveris estarão sempre à frente de horizontes turvos e sombrios. Tudo depende de nós. Saibamos, pois, transpor com dignidade os umbrais de nossas vidas, a fim de podermos ancorar serenamente nas águas pacíficas do porto seguro da existência.

Recebemos hoje o galardão de uma primeira vitória, antecedendo a muitas que ainda virão. Na marcha incessante do mundo, sobretudo na era do conhecimento e da velocidade, concluir uma graduação não é tudo, mas já é um testemunho de lutas que se encaminha paulatinamente para o sucesso.

Saídos recentemente de um curso superior, não podemos nos julgar superiores, donos da verdade absoluta. Ao contrário, devemos, com humildade, buscar exemplos edificantes que recheiam a história da administração, desde a antiquíssima Suméria no ano 5.000 a.C. que, ao tentar resolver seus problemas práticos, já procurava exercitar a arte de administrar, ou as organizações militares que em épocas remotas adotaram princípios administrativos que são postos em prática pelas empresas da atualidade. Não esqueçamos jamais que, na marcha incessante do mundo, as mudanças já foram institucionalizadas e se tornaram estáveis. Torna-se uma imperiosa necessidade recorrer sempre às teorias, tantas vezes comentadas por nossos professores, esses orientadores abnegáveis, verdadeiros monumentos ao trabalho constante, à dedicação ininterrupta, à forma grandiloquente de doar um pouco de suas próprias vidas carregadas de bênçãos e de frutos. A todos vocês, nossos abraços fraternos, demonstração insofismável do nosso mais sincero agradecimento e da nossa mais pura gratidão. Com todos vocês queremos dividir nossa alegria, palpável na expressão de contentamento e no rosto sorridente de cada formando.

Nem tudo é guerra nesse mundo de tantas turbulências. Ao contrário do que preconizava a teoria clássica da administração, não somos máquinas. Somos gente. Estamos expostos a sentimentos: amor, amizade, carinho, esperança, saudade. Saudade que estará eternamente conosco, sempre que lembrarmos dos melhores momentos que aqui vivemos ou até mesmo de alguma lágrima que por contingência, teimou em estar presente em nosso rosto.

O Padre Antônio Vieira, o cearense, disse certa vez que “o trabalho é uma página de um livro imenso em que todos os homens e mulheres podem escrever o seu nome” (Eu e os outros, 1987, p-30). E a Faculdade Integrada da Grande Fortaleza é uma página desse imenso livro em que ainda há lugar para muitas assinaturas.

Queremos tornar público e de forma eloquente nosso agradecimento a Deus por nos haver propiciado essa etapa tão importante de nossas vidas, o reconhecimento as nossas famílias (cônjuges e filhos), pilastras inabaláveis das nossas conquistas e ombros amigos que nos consolaram nos momentos de desalento que às vezes emanaram da alma. Aos nossos pais, presentes ou numa dimensão superior, sempre se constituíram em sentinelas incansáveis e indormidas das nossas vidas e do nosso futuro. Aos nossos irmãos e familiares mais distantes que, às vezes com estardalhaço, às vezes silenciosamente, sempre torceram pelo nosso sucesso.

Pra finalizar, gostaríamos de imprimir no coração e na alma de todas as minhas colegas, todos os meus colegas e de todos os presentes, o poema “Chegarás lá”, de autoria de um companheiro nosso, da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará, Moacir Gadelha:

“Se procuras o céu, chegarás lá.

Acende ao peito a luz das esperanças!

Se queres, podes crer, um dia alcanças.

A porta, cedo ou tarde, abrir-te-á!

Não desanima! Foge aos pessimismos,

Certo de que por ti ora Jesus!

Cintila em toda parte a GRANDE LUZ,

Tentando proteger-te dos abismos!

E crê na força amiga da oração!

Quando sincera flui com precisão

Em meio a pensamento positivo!

Segue sem medo! Simples e pacato,

Vibrando em busca do desiderato,

E hás de atingir supremo objetivo!”(3)

Muito obrigado!

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1 NAPOLEÃO, Nicodemos Gomes. Discurso proferido na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, 26 jan. 2006

2 BARBOSA, Rui. Discursos, Orações e Conferência, [s.d.], p-465

3 LIMA, José Moacir Gadelha de. Vitória da Luz, 2006, p-229

Nicodemos Napoleão
Enviado por Nicodemos Napoleão em 19/12/2006
Reeditado em 06/07/2009
Código do texto: T322102
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