Tela de Sedução
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Os rabiscos fluem como uma melodia preguiçosa e sonolenta; florescendo num baú de possibilidade que se abrem para um universo paralelo, onde a razão se mistura com a emoção e acaba mergulhando em sentimentos contraditórios. Estes afloram amorfos aos escombros dos obstáculos... fluem entre o labirinto das comoções... escorregando no mel do fel. É tanta insensatez escorrendo que ouso providenciar curativo, através de uma prosa cúmplice.
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Sem receio que as feridas permaneçam... as chagas não se abrem e tudo vem a ser o holus de nosso existencial...maná e sagacidade de emoções... vestindo-se de desejos, deixando a alma enamorada e a carne num arrebatamento íntimo. Mas, sem glória, sem méritos... num amor desprovido de convenções, carne com mente... numa corrente eletrizante que denigrem os pensamentos, enchem os pulmões, antes sufocados pela angústia de perder, entregando-se ao amor que pensou não mais existir.
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O querer torna-se uma obsessão que consome e rasga... deixando a alma ensandecida e o corpo frustrado. Mas, este é insistente como a alma é combustível... e lá vai o corpo a buscar o que não teve, o espírito a indomá-lo... e o coração que o mantém aceso permanece numa dualidade ímpar, tentando manter o equilíbrio.
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Transcedendo os quatros elementais: fogo efêmero... ar etéreo... terra eterna... mar em êxtase! Num clímax de amantes... ápice do prazer...satisfação plena dilacerando corações, envolvendo-se em seduções e pronto para o amor.Assim, num cais de comoções inebriantes saciam a fome, deixando as estrelas tímidas e o luar encabulado... inspirando os poetas, enfeitiçando corações e consumindo o querer...
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Os amantes compõem uma tela erótica, tendo o luar emoldurando as sombras, com requinte de artista... e na paleta das cores da noite, mergulham num mar de frenesi... num difuso espetáculo, se comunicam... numa língua que pertence somente a eles e seus desejos. Duas línguas faladas ao mesmo tempo, onde o dialeto é amar, vivenciar experiências... na universalidade do querer e a dualidade de sentir.
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Duo querer... na alma desnuda abraçando a paixão... e no silencio carnal, febril e insaciável, querendo beijos... ah, se beijam... abraçam... dançam até... enquanto se acariciam... seguindo o fio da meada, esperando ouvir o sussurro do miar... o som do uivo...o delírio no grito... para exauridos adormecerem no leito, do aconchego amado.

Composto em parceiria com Elizabeth Mattos,  Ricardo Reis e Loahn O'Donnel
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(08 de julho à 11 de julho de 2006)
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