Existencial Noturno

P

Já não sinto que o futuro seja necessário

Amiga, aprendi que em meu coração ordinário

Não há espaço para todo sofrimento

E se nada mais couber, nem sentimentos

Que me livre a vida das ausências, dos esquecimentos...

M

Que em meus caminhos tortuosos

Haja ao menos um sentido, eu imploro

Que eu possa arrancar com unhas e dentes

Um motivo, um propósito descente

E se a vida ousar me desafiar

Usarei Drummond a fim de retrucar

Sim! Meus ombros suportam!

O mundo e todo o meu pesar

P

Seus ombros haverão de suportar

Nem o amor e nem a morte poderiam prever

Que a armadilha mais viu desse querer

Seria encontrar um propósito para todo sentimento

Ainda que por um breve momento

Tudo poderia na inconsequência do desejo acabar

Não posso permitir que a ilusão do querer desfaça

Tudo que almejas conseguir...

M

Não posso e não ei de desistir

Mas, caro amigo

Há em mim um vazio avassalador

Corrói, sinto que deveria dormir

Por um ano talvez, ou até um pouco mais

Pois só assim poderia fugir

Desse mal que há em mim

Acovardo-me diante de mim mesma

Pergunto-lhe:

Meus ombros haverão de suportar?

P

Não deves, não pode desistir

E mesmo que por um século queira dormir

Minha amiga vejo em ti apenas coragem

E mesmo que esse imenso vazio selvagem

Queira as forças retirar de ti

O seu coração aflito fará e aterrizará

Em campos talvez não tão seguros

Mas seus ombros suportarão e isso eu juro

Basta apenas fechar os olhos e jamais

Nunca mais, se apegar ao futuro

M

O futuro não pertence a mim

Mas, em teus versos eu me restabeleço

Encontro muito de mim em ti

Esse teu coração guerreiro

Me impulsiona a prosseguir

Coragem! Virão mais dias assim

E após a aterrissagem,

Direi orgulhosa que consegui

Sem me esquecer de ti

P

O futuro é algo mais do que distante

E nesse instante onde apenas só temos a poesia

Cabe a nós essa pequena e estranha alegria

De poder viver o dia a dia não o que virá

Mas o que apenas temos hoje

E isso ninguém pode nos tirar

Pois nos corações que a amizade brota

Nenhum ódio reinará

Se algum mal há em ti

Com sua força suplantará

Diria o verdadeiramente guerreiro

Que no furor do seu coração

Não há mais o que temer e em seus ombros

O mundo inteiro sustentará

M

Comungo da estranheza dessa alegria singular

E confesso com franqueza que já a sinto no ar

Concluo, com a alma aliviada

Com sensação de haver sido inebriada

Por poder enfim escrever

“Duetar” com você

E por hora assim dizer

Que viver, requer da gente

Poesia e valentia

Para que incontidas vezes

Possamos nos reerguer

P

E nessa comunhão de soltos versos

Onde nos libertamos do que tentava nos frear

Foi um imenso prazer eu confesso

Muito importante contigo “duetar”

Se me estendi demais nessas linhas

Foi mesmo na sede de me doar

Portanto sua coragem e sua maestria

Assim nos fez nesse encontro de linhas

Terminar...

Paulo Raven e Mariany Mendes

Paulo Raven e Mariany Mendes
Enviado por Paulo Raven em 02/02/2020
Reeditado em 23/07/2020
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