BIG BROTHER, SKINNER E PAVLOV.

BIG BROTHER, SKINNER E PAVLOV.

CARLOS SENA

BIG BROTHER! Novamente a TV invade nossas residências, mesmo considerando que dispomos do controle remoto. Claro que temos que considerar que há um fascínio pela vida alheia e, talvez, um estudo sociológico mais sistemático possa nos fornecer elementos mais consistentes acerca dessa compreensão. Contudo, temos que considerar o que está posto em nosso mundo moderno, dominado, de certa forma, pelos sistemas políticos com base no capitalismo. E isto que está posto faz referência a comportamentos e atitudes da grande maioria da população extremamente tomada pela falta de conceitos consistentes, ou invadida por valores frouxos submetidos aos modismos dos meios de comunicação sociais.

Não se pode ignorar que a grande maioria dos nossos jovens está imiscuída nas drogas. Drogas químicas e drogas afetivas fundamentadas no desajuste familiar, na falta de amor, de respeito, de fraternidade. As nossas escolas e faculdades tudo indica não darem conta do recado para o qual foram criadas. Por outro lado, a contrapartida da família no processo educacional não tem dado as respostas satisfatórias à sociedade, como deveria, principalmente, no estabelecimento dos limites que precisam ser rigorosos no processo educacional.

Vejo o Big Brother na lógica do uso da “ingenuidade” de muitas pessoas. A TV tem um custo pequeno para gerar um programa dessa natureza, mesmo o prêmio sendo vultoso. Em compensação lucra milhões por se tratar de um reality show – programa relativamente barato. Fatura-se com tudo ali dentro da casa e ainda os espectadores pagam para interagir por telefone para falar com os BBB preferidos, no conhecido chat. Chato, certamente, e perigoso, pois chancela a dominação impulsionando pessoas a criarem “ídolos de pano” que, tão logo saem da mídia, apagam-se até que o Fantástico dê notícias sobre seus paradeiros.

A conhecida “casa” está difícil de ser compreendida como residência em seu sentido sociológico. Funciona mais como um teatro de quinta (com todo respeito ao teatro) em que seus participantes tudo fazem por dinheiro ou pela possibilidade de abiscoitar o prêmio maior. Lá dentro se pratica tudo, inclusive a hipocrisia de que certas atitudes acontecem em nome da sinceridade e da forma de ser de alguns. Traições afetivas, jogo de sedução barata, puxadas de tapetes, idiossincrasias esdrúxulas, mulheres se fingindo de difíceis sendo fáceis, homens se fingindo de machão sem serem tanto, enfim, todos os papéis extremamente suspeitos, mas que servem de “prato cheio” ao deleite dos admiradores.

Finalmente o que faltava parece que chegou: estão na casa do “BBB 10” três homossexuais assumidos e declarados – dois masculinos e uma mulher. Um dos homens faz a linha transformista e já está dando o que falar tanto na imprensa quanto nos órgãos oficiais do governo no que concerne à discriminação. Independente de julgamento, o fato está posto: gays, veados, baitolas, bichas, travestis, sapatas, pitombas, “franchonas” e tantas outras derivações são aceitos por todos, desde que, não sejam nas famílias de cada um. Por outro lado, cabe ressalva aos gays, na medida em que se torna desnecessário o “escancaramento” como foi colocado por todos. Diferente de Jan, homossexual assumido, num desses BBB, os de agora parecem que mais contribuem com a visão equivocada da homossexualidade enquanto condição afetiva de pelo menos dez por cento da população do mundo. Jan se estabeleceu em sua naturalidade, vestimenta, intelectualidade, profissionalismo e demais atributos de um ser humano igual aos ditos “normais”. Porque, em tese, é esse entendimento da maioria das correntes das ciências do comportamento, salvo melhor juízo.

Fica evidente que não somos espectadores contumazes do BBB. Por outro lado, seria difícil estabelecer uma crítica sem o conhecimento da proposta televisiva e, desta forma, depreender o que fica de subliminar em forma de “dominação” focada nos reflexos condicionados. Deste modo, já tivemos oportunidades de ver algumas apresentações – o suficiente para compreender os aspectos nocivos mencionados, que nos permitem este ensaio focado em viés Sociológicos e Psicológicos ou até mesmo psiquiátricos.

Entendo que os profissionais das chamadas ciências humanas igualmente se preocupem com esse “laboratório” de ações e reações humanas, bem ao gosto de Skinner e o seu condicionamento operante e Pavlov com seu condicionamento clássico calcado em reflexos condicionados.

Podemos inferir que há de certa forma, uma “projeção” comportamental por parte dos expectadores: uns se identificam com o machão da casa, outros com os homossexuais, outros com os chatos, os esnobes, os diferentes, etc. Faz crer que alguns comportamentos não assumidos no cotidiano de algumas pessoas, mas amparados no tradicional falso moralismo, encontre identidade nos papéis desempenhado pelos “jogadores”. Para os confinados, passa a impressão de que os mesmos venderão até as mães para ganhar o dinheiro do prêmio, inclusive rompendo com relações estáveis deixadas fora da casa. Certamente, quem ganhar o citado prêmio, terá cacife para tudo recuperar, inclusive amores perdidos. Não nos espantemos se, inesperadamente, soubermos que um dos machões BBB está de caso com um dos gays desta versão dez. Mas se acontecer a gente não terá condições de saber se foi armação no sentido de apimentar o programa e elevar sua audiência, pois tudo indica que os índices do IBOPE não são animadores.

Tudo indica que a geração moderna, com o BBB, dá a dimensão exata do escárnio que nós, seres humanos, chegamos. Exagero à parte, mas parece que a manipulação, pela mídia, acontece em todos os sentidos, inclusive com os familiares de cada participante que são levados para a “casa” quando um paredão acontece.

Diante disto, imaginamos: o que o dinheiro não faz? O que o mito do sucesso não faz? O que a onda de ser famoso e rico não fazem?

Esperamos que, fora dos holofotes, enfrentando a vida como pessoas comuns, os que não ganharem o prêmio maior, tenham condições de administrar o anonimato. Torcemos, inclusive, para que aprendam algumas lições que, certamente, essa “aventura” proporcionará. Mas se um processo depressivo acontecer, sejam fortes e procurem ajuda de profissionais capacitados. Por outro lado, quem tiver talento e sabedoria e simplicidade, certamente irá galgar um lugar merecido na mídia em suas mais variadas formas.