IMPUNIDADE, VIOLÊNCIA E NORMOSE.  
                                                      
                      CARLOS SENA

 

A gente anda meio que se acostumando com a violência. Cada dia tem um novo caso na imprensa que mexe com a opinião pública, até que um novo substitua e, novamente, seja substituído por outro. Assassinatos, estupros, latrocínios, "contos de vigário", seqüestros, etc. estão se tornando nossos "companheiros" e temos que tomar algumas medidas particulares, se não quisermos ficar "normóticos" - doença da normalidade que tira de nós o sentido crítico e nos conduz ao costume diante da inversão de valores.
Parece que nós, os mortais, estamos mesmo sem ter para quem apelar diante da briga entre os poderes, ante a violência estabelecida: o policial prende, o juíz solta. O governador diz que a lei tem que ser cumprida e que ordem de juiz não se discute. O judiciário diz, de outra forma, que sua função é aplicação das leis e que quem faz as leis são os deputados e senadores.
Parece que os "imortais" parlamentares não estão nem aí. Certamente porque têm seguranças em volta para si e seus familiares. Esquecem, talvez, que um dia não serão mais “pralamentares”, mas talvez disponham de um lastro financeiro bom que lhes permita contratar seguranças particulares.
A dor maior dos cidadãos comuns é saber que quem paga os salários dos vereadores, deputados e senadores somos nós. Pior: cada eleição não tem servido para "depurar" as câmaras, livrando-as, no mínimo, dos “fichas-sujas”. Certamente que alguma coisa mudou pra melhor. A população está mais ligada na informação, mas não me parece o suficiente esclarecida do seu papel de CONTROLE SOCIAL. Um exemplo disto são os conselhos municipais de saúde que, em sua maioria, são cooptados por parlamentares escusos que buscam, via saúde, eleição e reeleição. Isto, com certeza, é outro tipo de violência que, feito um câncer, se estabelece no serviço público e retira dos menos favorecidos o direito de assistência.
Isto posto, claro está que a violência tem vários cinturões de amarração. Nenhum deles nos apresenta como de menor importância, posto que surrupiam nossos direitos constitucionais. A violência que ceifa a vida ou a deixa pela metade em cima de uma cama, chama mais atenção face a natureza. Se pelo menos esta o Estado dominasse, certamente, estaríamos menos propensos a NORMOSE da forma como é apresentada.
O fato é que a VIDA HUMANA ficou banalizada. O lugar menos inseguro, atualmente, é em nossa casa. Mas mesmo esta é cheia de grades, pois os meliantes estando soltos, nós é que temos que nos prender. Os edifícios estão cercados de segurança eletrônica, muros eletrificados, interfones e mil outros instrumentos de suposta segurança.
Com vemos, ficou de fora a violência que a discriminação provoca. Talvez por um fator simples: se o nosso Estado não nos garante segurança física, como poderá nos prover de segurança moral? Perseguição aos negros, às mulheres, aos homossexuais, etc., tem sido patrocinadas por instituições de ensino. O que esperar dessa civilização que institucionaliza o ódio e o se-pa-ra-ti-vis-mo?
Focando na violência objetiva que a todos pode sensibilizar, resta a esperança. Mas se as leis são feitas por parlamentares, perguntamos: por que eles não tomam a decisão de mudar as leis caducas, investir em educação e saúde? Em cada eleição nos três níveis de governo, todos os candidatos falam em educação, saúde e segurança. Elegem-se, quase sempre, mas continuamos vendo o crime sem punição, a educação claudicando e a saúde na UTI.
Sociólogos do mundo todo já pesquisaram as causas da violência do mundo. Conclusão: IMPUNIDADE é o maior fator de estímulo. Como no nosso país cadeia é pra preto e pobre, fica difícil construir uma esperança. O caso da prisão do governador de Brasília nos deixou felizes, mas parece que foi apenas uma "recaída" da justiça. Logo em seguida vem o caso do estuprador de Luziânia e coloca tudo por terra.
Evidente que cuidar da segurança de forma científica significa modificar toda uma logística carcerária. Ninguém duvida que interesses seriam contrariados, pois do mesmo jeito que existiu e ainda persiste a indústria da seca, a da violência está em nossa cara. O país tem terra para fazer prisões auto-sustentáveis e que desenvolvam ações educativas. Mas não dá votos. A copa do mundo dá. Vejam como tanto dinheiro foi conseguido para as "CIDADES DA COPA". O SUS está aí sem dinheiro, porque os parlamentares retiraram o ICMS que cobria parte de suas despesas. A educação pública está aí, falida e destinada a filhos de pobre. Os parlamentares pagam planos de saúde e escola particular para seus filhos.
Portanto, a conclusão está posta e dita pelas maiores autoridades do planeta em violência: A IMPUNIDADE é seu maior estimulador. Diante disto, repensemos no nosso voto. A gente não pode mais viver fazendo de conta, acostumando-se com a "normalidade". A NORMOSE é séria e nos leva a morte interior porque nos retira  a sensibilidade crítica que faz a gente  permanecer com a capacidade de indignação.