Google


          O presente estudo almeja desenhar, delinear uma interface entre a literatura da atualidade destinada ao público infantil e textos do passado, destacando as relações dialógicas existentes entre os mesmos.
 
          Tendo por base estudos de vários autores, investigou-se o conceito de leitura, destacando a intertextualidade como um dos fatores que compõem a textualidade, fenômeno primordial para a produção de sentidos.
 
          Para atribuir, agregar significado(s) àquilo que lê, o leitor utiliza estratégias diversas, recorrendo a tudo quanto já sabe, operando associações com outros textos já lidos e assimilados...  Cada componente desse novo texto dialoga com tudo o que se acha "armazenado" na sua mente.
 
          Traçou-se uma breve evolução da literatura infantil, confirmando relações intertextuais constante entre "novos" e "velhos" textos.
 
          Fez-se um breve estudo sobre a mitologia clássica e os consagrados contos de fadas.  Isto porque, após tanto tempo, seus temas, elementos mágicos e personagens continuam fascinando e alimentando o imaginário infantil, encantando crianças gerações afora.
 
          Por isso, tais temas quase imortais são retomados nos textos hodiernos, sob uma ótica atual, reaproveitados (vale dizer, reescritos) com inédita sabedoria e inseridos num novo tempo, através de recriações mais complexas, ousadas e originais.
 
          O estudo desenvolvido procura comprovar, enfim, que a literatura clássica ressurge e une-se ao senso estético moderno, pelo viés da intertextualidade, em textos literários inteligentes, plenos do mais legítimo lirismo, destinados às crianças do nosso e dos vindouros tempos.
 
         A leitura, além de ser um elemento de poder, é uma riquíssima fonte de prazer; é imergir no desconhecido, explorar a diversidade, viver a fantasia.  Entretanto, para sua perfeita eficiência, torna-se fundamental que o narratário atribua significado(s) ao texto.
 
         Durante a leitura, o elocutário localiza e acessa conhecimentos que tem arquivados na memória e que contribuem para o processamento textual.  A leitura também enreda os leitores numa rede de textos, pois cada texto mantém um diálogo com outros.  Isto porque todo texto é, na verdade, um intertexto,  já que outros textos se encontram nele presentes, de forma implícita ou explícita.
 
         Eis aí a razão que atesta a intertextualidade como fator de grande importância no processo de produção e recepção de um texto, pois que ela diz respeito à inserção de outro(s) texto(s), antes produzidos, numa nova criação.
 
         Bem mais que em textos de natureza denotativa, referencial, científica, não-artísticos portanto, na literatura é mais fácil perceber o quanto a intertextualidade se encontra presente.  Com frequência, os escritores retomam em suas obras outros textos já existentes, às vezes seculares.
 
         Logo, perceber o nível de intertextualidade de uma obra literária relativamente a outras se apresenta como um procedimento intelectual básico para a otimização, o verdadeiro sucesso do processamento textual. 
 
          Ao refletir acerca da intertextualidade na literatura infantil, logo surgem à mente os eternos clássicos que ainda hoje encantam e fascinam pequenos e grandes leitores.  Tal constatação dá margem a que essas histórias já consagradas, sejam retomadas em versões atuais nas produções culturais para crianças.
 
          Na literatura é possível perceber o quanto a intertextualidade está presente.  Os autores, constantemente, retomam em suas obras outros textos pré-existentes.  Perceber essa intertextualidade numa obra literária torna-se, cada vez mais, fundamental para o processamento textual. 
 
          Este trabalho objetiva portanto mostrar como os contos modernos dirigidos às crianças são apropriações -- válidas sim, literariamente legítimas sim, porém sem dúvida apropriações não autorizadas -- de textos da literatura clássica visando a produção de novas histórias.
 
        O estudo proposto desenvolveu-se em duas etapas:
    1 - A primeira centrou-se no estudo das obras teóricas selecionadas, que abordam assuntos pertinentes ao sentido da leitura, estratégias de leitura, intertextualidade, literatura infantil, mitologia clássica e contos de fada.
 
    2 - A segunda tratou da análise das obras literárias selecionadas.

          Para demonstrar a evidência da intertextualidade na literatura infantil contemporânea -- logicamente, partindo da concepção canônica, e não de quaisquer outras --, desenvolveu-se a análise das obras Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, e A moça tecelã, de Marina Colasanti.
 
          Verificou-se nestes textos a presença da paródia, tipo de intertextualidade que imprime um tom crítico e irônico ao texto atual, quebrando os grilhões da "ideologia consolidada" do texto original, desconstruindo assim seus elementos em favor de novos significados literários.

         Nelas, além da análise da linguagem literária, da pertinência temática e das ilustrações, foram identificados também textos com os quais essas obras dialogam e o tipo de intertextualidade apresentada.
 
         Tornou-se possível perceber, então, as influências de repertórios de leituras de Chico Buarque e Marina Colasanti, refletidas nas novas produções, imediatamente agregadas, acrescidas ao universo da Literatura, em função de sua excelência artística.  Verificou-se desse modo o resgate dos contos de fada e da mitologia clássica e suas transformações e ajustes a um novo tempo e espaço no mundo contemporâneo.
 
          Compõe-se este trabalho de quatro capítulos. 
          No segundo, analisa-se brevemente a evolução da concepção de leitura.  É dada atenção especial à leitura como construção de sentido e as estratégias utilizadas pelo leitor a fim de se garantir o processamento textual. O capítulo também aborda o processo interativo entre o autor-texto-leitor como fator fundamental para a construção de sentido da leitura. 
 
          O terceiro tem início com uma breve definição do que é a intertextualidade, discorrendo a partir do processo de interação entre os homens. Ressalta-se que os conhecimentos adquiridos pela humanidade são reconstruídos ao longo dos anos através de um processo dialógico entre conhecimentos atuais e conhecimentos anteriores. Nesse capítulo também será destacado o processo de produção textual como uma atividade interacional.
 
          Privilegiando esse pressuposto, ainda no terceiro capítulo merecem atenção aspectos gerais sobre intertextualidade em Literatura, já que a mesma está constantemente, retomando em novas produções outros textos pré-existentes.  Procurou-se também destacar os diferentes tipos de intertextualidade. 
 
         Os clássicos da mitologia e os contos de fada, por exemplo, são constantemente retomados nas histórias contemporâneas.  Partindo desse enfoque, o quarto capítulo aborda o tema Intertextualidade em Literatura Infantil. 
 
          Inicialmente, é feita uma breve abordagem sobre o assunto.  Em seguida, são tecidos alguns fios sobre os clássicos da mitologia e dos contos de fada e a presença dos mesmos nos contos contemporâneos, não só porque explicam a criação do mundo, o modo de convivência nele e as formas possíveis de superar os obstáculos, mas também porque preenchem a necessidade de fantasia da criança, o seu mundo imaginário. 
 
          Os contos clássicos conseguem ultrapassar os limites do tempo para permanecerem vivos no imaginário das pessoas

          Conclui-se o trabalho com uma análise de duas obras contemporâneas para o público infantil, destacando o intertexto de alguns elementos da mitologia e dos contos de fada da tradição presentes nessas obras: Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque e a A moça tecelã, de Marina Colasanti.
 
          Chapeuzinho Amarelo resgata o tradicional conto de fadas Chapeuzinho Vermelho, estabelecendo relação de intertextualidade do tipo paródia.  A narrativa desconstrói gradativamente a imagem do lobo mal presente no clássico.  O livro apresenta-se num tom divertido que dialoga com o conhecido clássico, subvertendo-o. 
 
          Chapeuzinho Amarelo se apresenta diferente da Chapeuzinho Vermelho, de Perrault.  Aquela se distancia desta por características culturais de um novo tempo.  Os medos da Chapeuzinho Amarelo são marcas presentes na criança moderna e que, muitas vezes acabam isolando-a do convívio social. 
 
          O lobo que representa o castigo ligado à desobediência infantil é no poema de Chico Buarque representado pelos medos que a protagonista sentia e que a impedia de viver enquanto criança, afastando-a da vida social. 
 
          Ao se confrontar com o lobo, ou seja, ao enfrentar os desafios de todos os dias com coragem, autonomia e apoiando-se na palavra, Chapeuzinho Amarelo se liberta dos medos e transforma-se numa menina feliz, com um imaginário fértil e detentora das seus desejos infantis. 
 
         O trabalho se compõe de cinco capítulos, incluindo esta introdução e a conclusão.
 
         No segundo capítulo, analisa-se brevemente a evolução da concepção de leitura.  Será dada atenção especial à leitura como construção de sentido e as estratégias utilizadas pelo leitor, a fim de se garantir o processamento textual.  O capítulo também aborda o processo interativo entre o autor-texto-leitor, que celebram uma aliança amigável, imprescindível para a construção de sentido da leitura.
 
        O terceiro capítulo tem início com uma breve definição do que é a intertextualidade, discorrendo a partir do processo de interação entre os homens. 

          Ressalta-se, neste capítulo, que os conhecimentos adquiridos pela Humanidade são re-visitados e re-construídos ao longo dos anos, através de um processo dialógico entre saberes atuais e anteriores.  Também se destaca, aí, o processo de produção textual como uma atividade interacional.

 
         Ainda neste capítulo merecem atenção carinhosa os aspectos gerais sobre intertextualidade em Literatura, já que a mesma está continuamente retomando, em novas produções, outros textos preexistentes.  Procura-se também, lógico, destacar os diferentes tipos de intertextualidade.
 
         O quarto capítulo aborda o tema Intertextualidade em Literatura Infantil.  De início, procede-se a uma breve abordagem do assunto. 
 
          Em seguida, são tecidos alguns fios sobre os clássicos da mitologia e dos contos de fada, e sobre a presença dos mesmos nos contos hodiernos -- não só porque explicam a criação do mundo, o modo de convivência nele e as formas possíveis de superar os obstáculos, mas também porque preenchem a necessidade de devaneio da criança, em seu mundo pleno de fantasias. 
 
          Os contos clássicos conseguem ultrapassar os limites do tempo para permanecerem vivos no imaginário das pessoas.
 
        Sabe-se que a literatura infantil continua, cada vez mais, buscando conexões.  Não é difícil encontrar textos em que se percebem claramente referências a outros textos. Os clássicos da mitologia e os contos de fada, por exemplo, são bastante reaproveitados (retomados) nas histórias contemporâneas.
 
         E finalmente se opera uma análise de duas obras atuais escritas para o público infantil: Chapeuzinho Amarelo e A moça tecelã, destacando-se o intertexto de alguns elementos da mitologia e dos contos de fada da tradição presentes nesses trabalhos.
 
         Nessa parte da pesquisa, constata-se nos textos analisados a presença da paródia, tipo de intertextualidade em que se imprime um tom crítico e irônico ao texto atual, desconstruindo (desautorizando até, às vezes) os elementos do texto original, em favor de novéis significados literários. 
 
          Na atualidade, o procedimento parodístico é frequente nas novas criações.  Verifica-se na paródia uma ruptura, uma transgressão, uma relação de negatividade ou mesmo de confronto com o texto-base.
 
         Chapeuzinho Amarelo resgata o tradicional conto de fadas Chapeuzinho Vermelho, estabelecendo uma relação de intertextualidade do tipo paródia.  A narrativa buarqueana desconstrói, desmonta, verso a verso, a imagem do lobo mau presente naquele clássico. 
 
          Chico Buarque, em inteligentes versos simples, líricos como nunca, apresenta uma estrutura narrativa em que sua Chapeuzinho, num tom divertido, dialoga com o conhecido conto, subvertendo-o e desafiando-o, ao superpor-lhe novos significados e valores, completamente diferentes da história original.


          O segundo conto a ser analisado, A Moça Tecelã, apresenta como narrativa um enredo bem desenvolvido em que a protagonista da história vive entre realidade e ficção.  A personagem central busca através do seu delicado  trabalho com o tear, transportar para lindos tapetes sua realidade e seus sonhos.  A obra mantém relações intertextuais com os clássicos personagens Penélope, Rumpelstiltskin, Aracne e as Parcas. 
 
          É possível perceber também, por conseguinte, traços intertextuais da mitologia e dos contos de fada com a própria moça tecelã, palácio, escadarias, carruagens, jardins, torres, príncipe...
 
         Comprova-se assim o diálogo constante entre textos da tradição e textos da atualidade.  Conclui-se que a literatura clássica ressurge, triunfante sempre, nos textos destinados às crianças de hoje.
 
         Dessa forma, comprova-se que existe nos nossos tempos um repertório de textos literários, destinados ao público infantil, que vem utilizando a intertextualidade na sua tessitura. 

          Assim, os autores contemporâneos se apropriam dos conflitos, das aventuras, dos personagens e dos elementos presentes nos sempiternas narrativas da mitologia e dos contos de fada, para comporem seus textos, imprimindo sobre eles um olhar diferenciado, atualizado, não-unânime (ou des-unânime).

 
         Vale ressaltar que a construção de sentidos de um novo texto se efetivará, porém, pelo reencontro, pelo diálogo entre o mesmo e o repertório cultural de quem o lê.
 
 
          Bibliografia: 
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Paz e Terra, RJ, 1998.

CADERMATORI, Ligia. O que é literatura infantil. Brasiliense, SP, 1986.

CATINARI, Antonella. A bicicleta e o tempo. Edições Ática, SP, 2003.

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira. EDUSP, SP, 1995.

HOMERO.  Odisséia. (adap. Ruth Rocha). Companhia das Letrinhas, SP, 2000.
 
LAJOLO, Marisa.  Literatura infantil brasileira. Ática, SP, 1986.

LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina.  Literatura infantil brasileira: história & estórias. Ática, SP, 1984.

PAULIUKONIS, Maria A.L. e SANTOS, Leonor Werneck (Orgs.). Estratégias de leitura: texto e ensino. Lucerna, RJ, 2006.


          Links afins: 
"A Antiguidade e a Literatura Infantil" (Auto Lyra)

"A Importância do Maravilhoso na Literatura Infantil" (Cristiane Madanêlo)

"A Literatura Infantil" (Cristiane Madanêlo)

"Estudo das diversas modalidades de textos infantis" (Cristiane Madanêlo)

"O Texto Verbo-visual da Literatura Infantil e Ensino de Leitura" (Regina Souza Gomes)

"Articulação Textual na Literatura Infantil e Juvenil" (Leonor Werneck dos Santos)

"Chapeuzinho Amarelo" (Chico Buarque)
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 26/06/2010
Reeditado em 20/08/2010
Código do texto: T2343119
Classificação de conteúdo: seguro