COCHICHOS ESPIRITUAIS

Chega o poema no monitor, e aporta em meu espiritual com a graça da mensagem que faz pensar. Reflito sobre a proposta e a análise crítica flui, agradecendo a presença da irmã-poeta no meu coração.

Em frente, portanto:

"BIOGRAFIA

Helena Grecco

A minha biografia é um verso

Que vivo modificando

conforme transborda o lixo

Repleto de folhas amassadas...

Principalmente dos versos

Que falam de amor...

Estes são os mais difíceis

e inconclusivos...

Acho que o verso nasceu em mim,

Quando eu tinha pouca idade

E muita inocência...

Talvez por isso eles sejam singelos

E muito puros...

Eu tenho um estoque guardado

De versos de sol, auroras

Que iluminam quaisquer realidades

Por isto desejo, às vezes, unir meu verso

A uma outra biografia...

Mas acho que o meu verso distoa

Dos novos valores do homem

Da ferocidade do mundo, da sagacidade das pessoas...

Por isso sigo só,

Um verso

No universo...

Publicado no Recanto das Letras em 09/04/2011.

Código do texto: T2898486.".

Bonita reflexão, amada Helena! Esses momentos de autoconhecimento sempre nos impregnam da importância de estar vivo para poder ditar do sentido e do valor do Novo, em verso ou em prosa. Não são, simplesmente, momentos de espontaneidade inspiracional que a tudo se permitem. Necessário o segundo momento de criação e de preponderância do intelectivo sobre o emocional... Lapida-se o que é cochicho da gente com a gente mesmo... Quanto à classificação, inclino-me a aceitar o texto como PROSA POÉTICA, eis que muito rarefeitas as figuras de linguagem, principalmente as METÁFORAS PROFUNDAS, e, sem elas como delatar-se a Poesia? Peças com esse teor de subjetividade e possessão excluem o receptor, porque não abrem uma janelinha ao outro pólo, e somente aproveitam ao seu criador como questionamento do sentido do existir e o possível e plausível mistério do Outro, dialeticamente. A utilização dos possessivos e dos pronomes retos e oblíquos (na primeira pessoa) são sempre excludentes, sendo conveniente o uso na terceira pessoa. E Poesia é – como objeto de compreensão e de entendimento – expressão de universalismo. Fica-se, no caso, na qualidade de leitor, meramente atento à estética e à eventual pungência que pontua em qualquer humano à busca do Belo e evadido da "ferocidade do mundo". Recomendo-te ler a obra de Carlos Nejar, o qual tem um livro intitulado “A Ferocidade das Coisas”, ok? Muito grato pelas leituras e comentários aos meus textos, nesse Recanto. Mais: há um lapso de digitação em “meu verso distoa”. O correto é destoa. Fiquei feliz por tomar conhecimento de teu estro. No fundo, no fundinho mesmo, todo poeta é um imenso poço de desejos e ansiedades. A nós – leitores – cabe a degustação e a fruição dos frutos dessa “árvore do mundo”.

– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2932898