A IMANTAÇÃO DO LIRISMO

“VESTÍGIOS

Helena Grecco

Vou abrir minhas asas sobre você

E te levarei a voar comigo

Pela imensidão dos sonhos...

Deitaremos sobre as nuvens dos desejos

E com meus lábios molhados de orvalho noturno

Recolherei as estrelas do céu da tua boca...

Navegantes, adentraremos os mares de amar

E sôfregos, mergulharemos fundo nas águas do querer

Náufragos, nos abraçaremos extenuados

Entregues ao embalo das ondas que, lânguidas,

Virão explodir na praia

Sobre os vestígios do nosso amor...

Publicado no Recanto das Letras em 08/04/2011.

Código do texto: T2896146. http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/2896146 “.

Chama a atenção, na presente peça, que a autora, que não é novata na publicação de poemas (a sua página no RL registra 245 textos publicados na modalidade Poesia), não se deu conta de que o texto ora exposto se trata de um exemplar lavrado em Prosa Poética e o apresenta classificado como Poesia.

É de ressaltar que me tem prestigiado com leitura e comentários de inúmeros textos de análise crítica, dentre os quais vários em que o foco é a diferenciação entre Poesia e Prosa Poética, e também sobre textos comumente apresentados como exemplares em Poesia e que, em verdade, são meros “recados de amor”. Estes, diga-se, de passagem, tão ao gosto dos criadores e leitores da Grande Rede, principalmente os naipes do sexo feminino.

Renovo o que sempre procuro explicitar: sem figuras de linguagem, não há como pretender classificar um texto como exemplar em Poesia ou mesmo em Prosa Poética.

É de esclarecer, também, que, na Poesia, as metáforas são verticais; mergulham em profundidade, em polivalência de sentidos, produzindo – no receptor – uma sensação de estranheza e/ou alumbramento. Por elas se estabelece, no leitor, um gozo intelectual inusitado produzido pela ousadia das imagens traduzidas na cuca de quem recepciona a proposta poética.

Além do mais, é pelas figuras de linguagem que se produz a sugestionalidade, chegando à transcendência, características importantes do texto poético.

Na Prosa Poética, as eventuais metáforas são monovalentes, horizontais, com perceptível superficialidade, e não produzem nítidos efeitos como na Poesia. Aqui é o caso: o discurso vai se derramando no papel, tentando tornar verdade o desejo da autora, que sugere um quadro plácido, ao final:

“Entregues ao embalo das ondas que, lânguidas,/ Virão explodir na praia/ Sobre os vestígios do nosso amor...”.

O autor, ao elaborar um texto lírico, tem que ter cuidado para, ao se imantar de lirismo, não incorrer no erro de demasiadamente retratar o que lhe perpassa no coração, porque o discurso se esvai no lugar comum. E corre o risco de não deixar sequer “vestígios”...

Acresça-se que há a utilização excessiva dos possessivos, num discurso todo em primeira pessoa, ou seja, o EGO dentro do texto. Com ele, pretende trazer o amado a lume, porém não o consegue, restando falta de veracidade à proposta.

Aliás, é bom que se diga que o melhor elogio que alguém pode dar ao texto, principalmente em relação ao conteúdo do espécime em Poesia:

– É verdade, pura verdade!

– Do livro TIDOS & HAVIDOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3103914