O INTIMISMO LÍRICO

Para o texto: MEUS LITORAIS (T3212352)

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/3212352

De: Aglaure Corrêa Martins

(peço escusas por não publicar o poema por estar com direitos totais reservados)

Prezada Aglaure! O texto está bem lavrado, pleno de poesia, bem aproveitando a linguagem metafórica e o sentido denotativo a que só se pode chegar através das figuras de linguagem, mormente a METÁFORA. No entanto, o poema – que é a materialidade contemporânea da Poesia, consectário ao soneto e outras formas clássicas – está pejado pelo intimismo naturalmente confessional, o que exclui o apossamento do texto pelo seu receptor. O poema só cumprirá a sua poeticidade se o outro polo (o receptor) dele se apossar como "coisa sua". O poema é dos domínios do autor desde a sua confecção até a publicação. Depois de exposto à publicidade, é dos domínios (da posse) do leitor. Sobra ao autor os direitos autorais como consolação... Fora dessa concepção, nega-se ou minimiza-se a destinação mais oportuna nesses tempos bicudos de consumismo e individualismos correlatos: a proposta de CONFRATERNIDADE que o poema tem de conter. Também é linguagem de UNIVERSALIDADE: para atingir a todos em seu idioma. Nesta peça, até o título está maculado pela possessividade original como pecado de criação, visto o pronome possessivo "meu", que aparece várias vezes no texto, e no pronome oblíquo "me", excludente do "nós", que o Amor e a Poesia propõem. Aliás, o amar é sempre ínsito à Poesia, porque é, em regra, o elemento gerador do estado de poeticidade. Essa a maior diferença entre a criação poética e a prosaica. Naquela transparece, desde o primeiro momento (inspiração ou espontaneidade), a emoção, e, na Prosa, o condão criativo provém mais vivo pela vertente da razão, com rarefeitos laivos emocionais. Esse o maior desafio, em Poesia: fazer o segundo momento de criação (transpiração) sem perder a emocionalidade. Na peça em exame – ainda em primeira fase de criação – os "Litorais" são personalíssimos, voltando ao "Toi et Moi", de Paul Géraldy. O "eu e tu", intimismo lírico consagrado, publicado em 1912. Experimente a autora impessoalizar o poema e sobrevirá que teremos um texto de absoluta contemporaneidade poética formal. Porém, a peça é decididamente um exemplar em Poesia, fugindo dos costumeiros “recadinhos amorosos”, tão comuns na Grande Rede. Parabéns à autora!

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3224177