NO VENTRE DA CRIAÇÃO

Amada amiga Helena!

Reportado ao comentário que acabei de deixar ao pé do escrito no Recanto das Letras, resolvi dar à luz um texto autônomo, visto que me instiga a necessidade de partilhar com os leitores, sempre no foco de que possa vir a ser útil. Como sempre, trocando experiências, instigando ao novo e provocando a palavra no seu próprio ventre de criação.

“VELHA INFÂNCIA

Diante do gesto carinhoso, da expressão viva e amorosa da amizade, a alegria se apossa do coração grande e criança, ressurgindo sonhos meninos onde os carrosséis e rodas-gigantes aceleravam emoções. Sonhos eram coloridas luzinhas rebrilhando alegrias, às vezes, medo pelo rodopio do chapéu mexicano, máquina futurística a contornar o mundo inocente da infância e das incertezas. Sonhos meninos sumiam pelos ares misturados aos coloridos balões, e os olhos curiosos imaginavam aonde eles iriam parar. Empunhando balões atrelados a frágeis linhas do tempo, braços franzinos demais para abraçar o mundo, porém, grandes o suficiente para arrebanhar nuvens de algodão.

Enviado por Helena da Rosa em 17/10/2011.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3281661

Código do texto: T3281661.”

Atrevi-me a dar uma guaribada estilística e de andamento temporal: verbos no presente, evocando o antanho, a partir da proposta, fora o causal inicial explicativo subjacente ao processo de criação do escrito. Pareceu-me que o conjunto estava com um andamento inexpressivo, reticente, sem a vitalidade que um texto evocativo tem que possuir. Isso talvez se atribua às flexões verbais "no passado". A incisividade do texto parece que ficou melhor, mais contundente, sem perder a coerência com a proposta idealizada. O título é ruim, porque pleonástico. Qual a infância que não é memorial, "envelhecida" pelo transcurso do tempo. Acho que poderias conseguir uma metáfora mais coerente.

A croniqueta ou o micro-conto ficaria melhor com o acréscimo de uma guloseima inerente às circunstâncias circenses ou nos parques de diversão: o ALGODÃO DOCE, no mínimo para fugir do PLEONASMO VICIOSO, corriqueiro, da expressão "nuvens de algodão". Teríamos o choque do "inesperado", que tão bem caracteriza o texto curto da contemporaneidade formal. E, porque havido o conteúdo "poético", o componente "fantasioso", inusitado, sempre presente na infância de qualquer vivente...

O tema INFÂNCIA é sempre um desafio: o de correr o risco de mergulhar no lugar comum e subjetivista, prejudicando o efeito estético. Aqui, acaso acates, teríamos um belo exemplar de PROSA POÉTICA. Apenas cumpro o meu papel de analista crítico e instigador ao texto de melhor postura estética.

Minhas escusas... Eis a proposta:

“A alegria se apossa do coração grande e – criança – ressurgem sonhos em que carrosséis e rodas-gigantes aceleram emoções: coloridas luzinhas rebrilham alegrias. Às vezes, medo pelo rodopio do chapéu mexicano, máquina futurística a contornar o mundo inocente de infância e incertezas. Sonhos meninos somem pelos ares misturados aos coloridos balões e olhos curiosos imaginam onde iriam parar... Empunhando balões atrelados a frágeis cordeis do tempo, braços por demais franzinos para abraçar o mundo. Porém grandes o suficiente para arrebanhar nuvens de algodão... doce.”.

– Do livro SORTILÉGIOS, 2011.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3284702