DEUS EM MIM OU, O DEUS FORA DE MIM
 
 
O dualismo é a doutrina segundo a qual, a realidade e a natureza humana estão divididas em dois princípios fundamentais e antagônicos, como bem e mal, essência e existência, matéria e forma, corpo e espírito etc. Característica do que é dual ou duplo; DUALIDADE.
Para dar início a este ensaio, tentaremos adentrar num assunto por demais polêmico e espinhoso, que é somente admitido pela fé ou pelas ditas “verdades reveladas”. Para iniciarmos uma caminhada por essa floresta densa de mistérios, metáforas e mitos, devemos antes de tudo nos abstrair das crenças, dos dogmas, da tradição e de todos os conceitos religiosos que mais funcionam como traves aos nossos olhos, que também é conhecido como a danosa castração da nossa intelectualidade.
Pela natureza do próprio assunto, nós somos forçados a empreender uma viagem a milhares de anos e nos determos na época de Abraão. Época em que, infelizmente, não sabemos a exata data dessa ocorrência e nem tão pouco sabemos, na verdade, qual ou quais foram os autores dessa narrativa que consta nos famosos ditos livros sagrados.
Através desses ditos livros sagrados, chegou ao nosso conhecimento que Abraão e a sua parentela, se deslocaram de Ur no sul da antiga Caldéia, depois Pérsia e atualmente o Irã ou a República Islâmica do Irã. Dizem esses mesmos livros sagrados que Abraão, com toda a sua parentela se deslocou para Canaã, uma promessa ou a vontade expressa de um Deus transcendente e fora do nosso mundo, ou ainda, um mito que as religiões transformaram em realidade divina e histórica.
Bom, aqui podemos observar também, o nascimento de um mito ou do mono mito de Deus. Sabemos também que o mito vem sempre carregado de metáforas, que é a sua linguagem própria. Aqui nasce o dualismo religioso, Deus e o nosso mundo – isto quer dizer, Deus em seu mundo ou no seu reino longe de nós, e nós, em nosso mundo, longe de Deus, sem poder acessá-lo.
Por uma questão histórica, nós não podemos esquecer do fato “Moisés” – príncipe egípcio, devidamente instruído nas escolas de mistérios do reino de Faraó. Tendo o mesmo, num tempo atrás, em função do seu crime cometido contra um soldado egípcio, em favor de um escravo judeu. Atitude que o fez abandonar o Egito, e a conspirar contra o Faraó, para libertar os judeus do cativeiro. Tudo por uma vontade e ordem de Deus. Aqui, podemos notar que o dualismo continua sendo a teologia empregada por Moisés, pois o mesmo chegava a falar com Deus e, do Mesmo, diz a história, que recebeu as taboas com os dez mandamentos. Pode-se notar que o príncipe egípcio com muita sagacidade e férrea liderança, mantém o mito de Abraão e impõe uma religião ao povo judeu que nessa época nem religião possuía.
As religiões, sem grandes conhecimentos, preferiram aceitar o dualismo abraâmico para, muitos milhares de anos depois, entronizar em suas religiões o dualismo aristotélico.
Até aqui demonstramos que na antiguidade de Abraão, Moisés e Jacó, havia um Deus fora do mundo que conversava apenas com os escolhidos, entretanto, era um Deus totalmente transcendente, raivoso, cruel, vingativo e fora do nosso mundo.
Aqui é bom que se faça referência ao que aconteceu no ano um da nossa era, quando na Palestina nasce uma nova liderança religiosa que veio como profeta, para justificar e atualizar a religião dos judeus, até então, tida como mosaica, restrita aos judeus e dominada pelos próprios sacerdotes do templo.
Nasce Jesus de Nazaré – filho de José, o carpinteiro e de Maria, filha de Ana e Joaquim. Maria, quando solteira, era uma zeladora do templo e José era viúvo de Débora que com ela teve vários filhos, e, por um acerto entre os varões do templo, arrumaram o casamento de José com Maria, pois um judeu não poderia ficar sem a assistência de uma mulher, que era a encarregada de educar os filhos.
Bom, José engravida Maria, o resto é lenda criada para justificar a divindade de Jesus – pois Jesus nasceu, naturalmente, como todos os homens nascem. Nada de especial aconteceu. Os exageros narrados na Bíblia tinham apenas como fim, justificar as profecias que foram feitas. Jesus não foi um Deus encarnado, antes de tudo, foi um profeta devidamente instruído no templo por José de Arimatéia e por Nicodemos. Acrescentando-se ainda, o seu estágio no oriente, aprendendo coisas novas, pois o oriente na Índia foi a sua universidade.
Com relação a Deus, Jesus sempre foi muito claro, pois é necessário se atentar às suas palavras: “ Eu e o Pai somos um, o Pai está em mim, e eu estou no Pai” Aqui, devemos entender como a verdadeira imanência, isto quer dizer, a presença sem ser.
Jesus em outra ocasião também afirmou: “ O Reino de Deus está dentro de vós”. Também disse o seguinte: “ Vós sois templos vivos de Deus”. Aqui, também encontramos a imanência pura e simples.
 O eclesiasticismo com isso abandonava de vez, o pensamento do Nazareno. Com esse gesto, a igreja, antes somente cristã, agora já católica, aceita como patrono seu, o filósofo Aristóteles. De início, com a assessoria do platônico e Maniqueísta Agostinho de Hipona, em grandes preparo para essa hercúlea tarefa. Todavia, ele em seus questionamentos, sentiu que não era possível estabelecer ou fundar uma igreja transnacional, alicerçada nas ideias de Platão. Por isso, Agostinho, por volta do ano 350 D.C. preferiu sem grandes conhecimentos, aceitar os ensinamentos dualísticos de Aristóteles, e assim, colocar Deus fora do nosso mundo, totalmente transcendente. Um verdadeiro retrocesso aos tempos Abraâmicos.
Mais tarde, por volta do ano de 1200 D.C. surge outro simpático a Aristóteles. Aqui estamos querendo nos referir à Thomas de Aquino, teólogo da igreja católica, que acabou por oficializar definitivamente a doutrina de Aristóteles, para nortear o destino da Igreja dita Una e Santa.
Como vimos, todos, exceto Jesus, preferiram colocar Deus fora do mundo, num reino totalmente indeterminado.
Jesus já não faz o mesmo em suas prédicas, pois ele era enfático em dizer que, “O reino de Deus está dentro de vós”. E mais ainda, dizia que, “Vós sois templos vivos de Deus”. Também afirmava com muita sabedoria que, o Pai está dentro de mim, eu e o Pai somos um. Isso, pelo que entendemos, trata-se da genuína imanência, isto é, a presença sem ser.
Sabemos que por uma definição filosófica, a imanência é a presença de um Ser, sem, contudo caracterizar a identidade desse Ser. Por exemplo: Deus é imanente em nós, mas nós não somos Deus. Isso era exatamente o que Jesus afirmava, pois Ele, nunca em hipótese alguma, afirmou ser um Deus encarnado.
As religiões com as suas teologias blandiciosas e tendenciosas, se acrescentando a isso, a arrogância e o orgulho eclesiástico que se considerava detentor do monopólio de Deus. Falando assim, somos obrigados a comentar que as religiões sempre exerceram o poder de forma absoluta. A humanidade, em sua maioria, já abraçou a liberdade e a democracia, fato que ainda não aconteceu com as religiões que ainda vivem nas trevas do absolutismo.
As religiões sem nenhum constrangimento aprisionaram Deus para si. Detiveram e ainda detém o monopólio de Deus.  Desta forma, conduziram a humanidade por um caminho totalmente diferente daquele que Jesus propalou aos quatro ventos, alto e em bom som, segundo os Evangelhos.
“O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS”
“CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ”.