VOZES DO SILÊNCIO
Chega o poema com a sua aura de novidades e estranheza. E procuro fruí-lo com a necessária lucidez para a tentativa de decodificação do conteúdo. Gosto do que vejo... Ele me diz da vida e dos escaninhos sentimentais de sua autora e de seu alter ego. Sugere-me interlocução. Palavra e os escombros espirituais das ausências...
“O POÇO DO SILÊNCIO
Lenise Marques
Debruça-te no poço do silêncio.
Na superfície espelhada do líquido
tua alma espera.
Palavras têm cortantes arestas
e é tão puro esse momento -
âncora lançada ao oceano do tempo.
Toca docemente teus próprios dedos
e quando aquietarem-se no poço
os círculos concêntricos de teu gesto
e em tua mente os pensamentos...
contempla na água, refletido teu rosto,
atrás... o céu de paz infinita
e mais nada!
– remetido pelo Orkut em 19/03/2012.
Lenise, amada confreira de Letras! Parabéns! Orgulho-me de ser teu amigo virtual (e também no mundo real) e poder receber mimos tão sensíveis e esteticamente bem postos... Percebo que cada dia mais a tua poesia se dilarga em horizontes e profundidade. E fico feliz e mais denso de humanidades pela fruição da mensagem... Obrigado por compartilhares o teu talento em evolução. "POÇO DO SILÊNCIO" é um bom texto: reflexivo e de alta cogitação semântica, a par de uma simplicidade vocabular de fazer inveja aos eruditos. Poesia sentencial, tutorial, máxima ou aforismo: a mesma verve que tornou possível a passagem de Göethe, Rilke, Hörderlin, Willian Blake e outros para a história literária. Pura poesia pensamental com destinatário(s) solto(s) no mundo... Continua lançando as tuas âncoras no mar de nossas sensibilidades. Enquanto o barco aporta e continua a navegar em mim, procuro mergulhar no poço de água boa e me banho de liquens e algas. Revivo a destroçada dimensão humana a que são condenados os pensantes, e emerjo lívido de espantos, de alma rediviva... Lembro-me de Fernando Pessoa e o seu monumental TABACARIA, de 1928: “E o mundo reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança”. Lisonjeado e penhorado, segue – intensa – a fraternidade e o apreço do poetinha JM.
– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/12.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3564934