NO ENCALÇO DA POESIA

Chega o relato de sensibilidade, com sua aura de propostas e mistérios. Vamo-nos a ele, com o fascínio de quem está sequioso de Poesia.

“A tristeza cobre meu corpo como a pele de um animal vivo.

Voraz.

Feroz.

Nunca se cansa.

Nunca adormece.

Nem nada o abate.

E às vezes chorando eu me pego implorando que ele me mate!

Viviane B. Pinheiro.”

– remetido pelo Orkut em 20/03/2011.

Este é um texto interessante e dimensiona a visceralidade da entrega ao pensar poético. Vida e morte num lampejo... O texto representa uma chamada de atenção do eventual leitor para a inquietude travestida na tristeza do fundo de poço... Um apelo rítmico que aproveita assonâncias e se torna agradável ao ouvido. Linguagem com poder de codificação que intriga e sugere. No entanto, esse hermetismo é decorrente do poder de comunicação traduzido pelas imagens e não do uso de palavras difíceis ou desconhecidas. O vocabulário é típico do pensamento feminino em sua agonia emotiva, fruto, talvez, do jogo lírico-amoroso que se apresenta subliminar, imbricado – todavia não dito – meramente sugerido: aquilo que fere, doi, consome, maltrata. Todo o clima poético centrado na sensação de TRISTEZA... Esse “animal”, tal como sugerido, é possível que subverta a figura subjacente na falta de amor: O AMADO... O verso inicial muito longo não logra efeito plástico – falta de fidelidade ao mundo do real – na comparação com “a pele de um animal vivo.”, em que transparece a tentativa metafórica. A autora, talvez por falta de conhecimento dos escaninhos e meneios da Poesia como gênero literário, optou pelo COMPARATIVO, não chegando à METÁFORA – que é um comparativo abreviado – o que daria mais poeticidade e realismo (curiosamente) à imagem. Assim, seco, enxuto: "A TRISTEZA COBRE MEU CORPO – PELE DE UM ANIMAL VIVO." A proposta de estranheza e de “corpus” poético transfiguraria para além do texto: vocábulos a menos, poeticidade a mais – traço importante da poesia da contemporaneidade. Por ora, tal como está – por inexistência das características denunciadoras do gênero Poesia – constata-se que é um exemplar lavrado em Prosa Poética. Ainda não é um POEMA, porém, seguramente é um grito de socorro, como todo bom texto dessa temática: a do intimismo. Percebe-se que a autora está no encalço da Poesia...

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/12.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3570392