A ARTE COMOVE O EXPECTANTE

“SÓ POR HOJE...

Cláudia Vidinhas

Preciso conversar com meu coração

Lavar e purificar minha alma

Resgatar minha vida no real

Num encontro com a paz.

Percorrer a fé... Com um só olhar

No tempo... Procurar meu destino

Sepultar tudo que venha relembrar

Em flocos de neve congelar essa paixão.

Soltar no ar... Bilhetes... Fotos... Rosas...

Jogar ao mar...

Cinzas de ramalhetes.

Ficar feliz novamente...

Com o azul do céu.

Não mais...

Desejar seus beijos molhados.

Ficar livre...

Dos prazeres que viciaram meu corpo.

Ao vento...

Entregar essa alucinante saudade que resiste com amor.”

– remetido pelo Orkut, em 17/04/2012, às 15h18min.

Claudinha, poetamiga! O texto acima, com que me obsequias (e escrevo para agradecer o envio e saudá-lo com uma análise) é um belo exemplar do RECADO AMOROSO, modalidade quase literária, confidencial e intimista, que tomou conta dos recantos da net, porque muito próxima, caso a caso – por extensão sentimental e estética – das questões afetivas do “mundo das realidades”, muito comuns ao público feminino, de seu bel-prazer e deleite. Não se trata de novidade essa manifestação, eis que já aparecia antes da grande rede em muitos livros de poemas de novatos. Não chega – como espécime literário-artístico – a se caracterizar como pertencente ao gênero Poesia ou à espécie Prosa Poética, por não apresentar os elementos que são característicos a estes dois, principalmente a figuração de linguagem ou de estilo, onde predominam as metáforas e metonímias, e, sem estas, não há como codificar a Palavra a ponto de produzir imagens e efeitos estéticos, que é a tônica da linguagem poética. E nem se identificar o SENTIDO CONOTATIVO, pelo qual resta codificada a linguagem, fugindo ao derramamento verbal, direto, raso, e sem estranhamentos ao espírito que permitam a comoção do receptor. Esta peça está realmente muito bem escrita, chamando a atenção, já que dificilmente me manifesto sobre esse tipo de manifestação, por entendê-la apenas para-literária. Seguramente, este é um bom caminho para alcançar a Poesia e conviver com suas nuanças. A leveza do aporte gráfico, limpo e sem gigantismos figurativos, permite, no caso, um bom encaixe TEXTO-FIGURA... Pouco me agradam essas propostas – tão comuns à grande rede – porque só excepcionalmente ocorre a CONGEMINAÇÃO ENTRE AS DUAS LINGUAGENS: a escrita e a plástica, o que, no presente caso, se percebe perfazer com grande talento. É pena que eu não possa, por dificuldades técnicas, trazer até aqui as imagens que servem para ilustrar o texto... Chamo a atenção para a principal função da arte: COMOVER o seu espectador...

– Do livro POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3618316