PARA ALÉM DAS BARREIRAS

“COTIDIANO OLHAR

MARIA

É preciso olhar como se estivesse olhando pela primeira vez... é preciso olhar assim, para desvelar o inusitado que não percebemos no cotidiano olhar. É na estranheza que se encontram as riquezas que não vemos quando nos acostumamos com a normalidade de nosso olhar. É o olhar estranho que despe o véu que encobre a realidade e revela a concretude do real, o que não está posto. É um olhar de ver pela primeira vez que espanta a alma e desencadeia o processo de reflexão... é nesse olhar que enxergamos para além das nuvens que abraçam a montanha nas manhãs...”.

Enviado por Maria em 22/03/2012.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/3569066

Código do texto: T3569066.

Eis um belo texto. A poeticidade da peça começa pela sua titulação, chamando a atenção para o qualificativo anteposto ao substantivo, fugindo ao usual sentido denotativo diário, prosaico, cotidiano. Começa ali a construção em sentido CONOTATIVO, característico do texto que contém Poesia: Cotidiano Olhar. Corretamente classificado, no site do Recanto das Letras (onde está albergado) quanto à especificidade prosaica e suas nuances poéticas: metáforas superficiais, monovalentes, rarefeitas por desnecessidade de codificação verbal. Muito bem escolhidas para o viés de codificação, exceto no final do texto, quando refoge ao comum e explica o olhar do Novo... Singelo na sua nomenclatura de vocábulos bem escolhidos, típicos do hausto de pura inspiração, com pouco índice aparente de transpiração. No entanto, percebe-se que a autora teve, no mínimo, de exercitar a leitura – congeminada à vivência – para que pudesse vir a organizar os seus elementos vocabulares em bom e cursivo ritmo e agradável estilo. E fechar a peça com êxito, nesse olhar para "além das nuvens...". Ah! Lembrei-me de Fernão Capelo Gaivota, da forja de um dos mestres de minha infância de descobertas: Richard Bach. Logo no episódio quando, na obra bachiana, a gaivotinha tenta superar os anteparos por onde pretende alçar voo e transpor-se ao infinito... Que surjam muitas mais alçadas para além das barreiras e dos anteparos, poetamiga Maria! É, parece que é assim que se permitem os magos ao travestir o "real e sua concretude"... Aqui, com simplicidade, a eterna arte construiu a ponte sutil entre a emoção e a razão. Tudo muito sugerido, como é da natureza dos “primeiros olhares”...

– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3622746