DA LINGUAGEM POÉTICA
“Paris/Londres IV
Eduardo Paixão Souza
Régua de alfaiate, esquina atrás do mundo...
primeiro veio a sombra,
por trás da sombra a projeção.
Piano desafinado,
pedra e plano não se combinam.
Faz diferença dizer que ama,
pois sendo o relógio,
instrumento de repetição,
marca sempre as mesmas horas.
Nenhuma igual a outra,
assim como nossas falas....
no fim de tudo, sempre as mesmas,
mas marcando o tempo
que só está em nossa abstração.
Esquadro vazio, instante secular....
se faltou algum abraço que não dei,
se as nuvens passam devagar,
fui eu quem manipulou a natureza,
só pra não te ver chorar.
Com todo amor serei eterno,
como a valsa que nasceu no fim da guerra.
Agora tudo está perfeito,
as mãos no infinito, e os pés sobre a terra.”
Código do texto: T3628009.
http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/3628009
Publicado em 23/04/2012.
Muito bonito este texto... Denso de imagística, bem construído, ritmo cursivo, despojado quanto à simplicidade dos vocábulos, tema(s) inusitado(s), com abordagem que denota sabedoria e leitura. Seguramente é um poema (com Poesia) com valores em que perpassa o temário de régua, esquadro e compasso, numa vertente de mergulho ao subjetivo não revelado de "nossas falas"... De um lirismo marcante, em que não há o famigerado mau gosto do "recadismo amoroso" bilateral e excludente da arte e gênero poéticos, mercê dos pontuais líricos, na 2ª e 3ª estrofes, em "...abraço", “só pra não te ver chorar” e "...amor", e toda a carga semântica inferida. Enfim, uma peça em linguagem bem apanhada, com a utilização do sentido conotativo, bem codificado (como requer a Poesia), denunciador da linguagem poética. Boas conotações semânticas e assonâncias que chamam a atenção, à hora da análise crítica. Percebe-se que a aparente rimação não é apenas a utilização do recurso rítmico do classicismo formal e, sim, a da construção em simetria, como se percebe no "fecho de ouro" à moda dos sonetistas, com bom recurso de silabação fônica. Tudo pela confraternidade e universalidade da Poética como linguagem de quem sabe que está frente ao mistério dos signos e conhece o seu árduo ofício. Parabéns, irmão poeta! E somos confrades de régua, compasso e esquadro na mão, para ser instrumento de CONFRATERNIDADE. Há algo mais sensato do que a Palavra que nasce do “... perfeito, ... mãos no infinito, e os pés sobre a terra”?
– Do livro A POESIA SEM SEGREDOS, 2012.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3631846