A ARTE COMO PROPOSITURA

Por mais que o texto artístico proposto seja abrangente, este nunca esgota o assunto, e sim, o amplia e dilata através de indagações e perquirições. É esta a principal função da obra de arte, enquanto elemento estético-intelectivo: fazer pensar, instigar, solapar o que está posto, sedimentado, estagnado.

A arte, em geral, é mudancista, desacomoda. É de sua natureza a inquietação.

A eventual criação artística subsequente depende de antíteses antepostas aos olhos e/ou ouvidos do espectador, e, se estas forem efetivamente genuínas ou singulares são capazes de comover tanto o poeta-autor quanto o poeta-leitor. A arte poética sem estes dois agentes criadores inexiste, ou melhor, não se perfaz. São estes os construtores do processo poético.

Em arte, ao perceber este efeito emitido para o poema através do sopro criativo na sua lavratura pelo autor, e, também, ao atingir a sensibilidade do leitor, eu o identifico e catalogo como um conjunto verbal cuja característica é o Novo, corpo textual genuíno e essencial: um significante nascido para compactuar beleza estética na materialidade da Poesia.

Não esqueçamos que, para Octavio Paz, "o poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia erguida."

Enfim, parece-me que é neste momento único em que significante e significado se encontram e se completam, quando o poema se alteia, toma fôlego para valsar nos salões do pensamento e da memória.

Também intuo que é neste momento de criação em absurdo estado de Poesia, que inventiva, palavra e ritmo corporificam as imagens, que voejam por si próprias, inaugurando os domínios do território da imagística ou imagética, adejando sobre o mundo dos fatos. O que sobrevém é sempre o Novo, o Inusitado.

No mais, todo o restante é futuro, enquanto a palavra conviver em seu idioma de amor, a poesia erguida (no poema nunca exaurido) vai fazendo a tessitura do insigne Belo com a deusa Felicidade.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2022.

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