Quem luta para ser diferente não tem o direito de pleitear igualdade

Há cerca de um ano a mais alta corte de Justiça do Brasil, o Supremo Tribunal Federal reconhecer pela "goleada" de 10 a 0 a Lei de Cotas em universidade e outros equipamentos para “negros” e índios. Eu realmente acreditava que os senhores das Leis seriam mais sensatos e, numa decisão histórica iriam derrubar por terra uma das nossas maiores vergonhas.

Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel decretou o fim da escravatura no Brasil numa canetada, em 3 artigos malfadados. Não que defendamos a escravatura, mas porque não obedeceu a um sistema de inclusão dos negros numa sociedade que iria abrigá-los como cidadãos livres. E assim viveu o negro, à sua própria sorte por mais de um século.

É claro que as injustiças sociais existiram e ainda existem, é claro que os negros são mais pobres que os brancos, principalmente porque as suas raízes não estão fincadas nas heranças dos ricos colonizadores. É claro que a resistência de inclusão foi latente e por isto o negro liberto foi condenado à favela, ás ruas, ao desemprego e, por conseguinte à marginalidade. Mas, também é claro que ele, com as bênçãos dos Orixás e Inkisses conseguiram sobreviver, e bem! Hoje, graças ao seu jogo de cintura estão totalmente incluídos na sociedade. E os casos de segregação são fartamente tipificados em Lei, tanto no Código Penal, mas principalmente na Constituição Brasileira.

Entretanto, acima da Carta Magna, Brasil celebra o mais absurdo e desumano diploma legal do planeta: o famigerado Estatuto da Igualdade Racial, e sob os auspícios e bênçãos do Supremo Tribunal Federal. Ou melhor, poderia ser chamado de desigualdade, por colocar o afrodescendente numa condição tão inferior aos arianos, a ponto de necessitarem das migalhas do Poder Público em sistemas de cotas e dos empregadores privados, obrigados pelo Estatuto a beneficiarem os afrodescendentes.

A começar pela luta insana de grupos esquerdistas aliciadores de neófitos desinformados que buscam vantagens na desigualdade e não na luta pela igualdade constitucionalmente assegurada no Artigo 5º da Constituição Brasileira.

No momento em que se pleiteia o reconhecimento da desigualdade, o direito a ser reconhecido como diferente, é lógico que a luta pela igualdade cai por terra, anulando quaisquer discursos alusivos ao tema.

O Brasil se atrasou no horário e no tempo de libertar seus escravos, e se omitiu no momento de assegurar aos libertos os direitos básicos de inclusão. O que alocou o afrodescendente brasileiro na marginalidade, nas favelas e exclusão social. A busca por cidadania e pela inclusão no sistema social marcou a luta dos pretos brasileiros. A discriminação e a segregação, que ainda permeiam negativamente e mancham a história do Brasil, foram fatores determinantes que alentaram uma luta justa por igualdade.

Entretanto as lutas não podem ser confundidas, as bandeiras não podem ser emaranhadas.

Lutar pelo reconhecimento social, pela inclusão cidadã e pela formação eqüilátera de uma sociedade plural, mas com a necessidade de ser justa e igualitária, não pode ser confundida com a autosegregação. Lutar para ser reconhecido como desigual, inferior e merecedor da caridade de seus algozes supostos.

Assim, o que é mais sensato dizer e concluir é que, quem luta para ser diferente não pode pleitear desigualdade.

Estou envergonhado como afrodescendente e como brasileiro, um país que misturou as suas raças matrizes e criou o ser mais belo do Planeta, ou seja, o povo brasileiro. Este é quem deve ser enaltecido. Criar um conceito de desigualdade neste momento da história é no mínimo um retrocesso desnecessário, que devemos repudiar.

Zezinho França é jornalista, antropólogo, músico e diretor teatral. É Diretor responsável pela Editora e Publicações Ponto e Vírgula

Zezinho França
Enviado por Zezinho França em 09/07/2013
Código do texto: T4378427
Classificação de conteúdo: seguro