INDEPENDÊNCIA E MATURIDADE

“Acredito que é bastante possível melhorar a escrita com a leitura de textos de escritores consagrados e/ou experimentados nos misteres literários, como é o meu caso. De qualquer modo, sempre aprendo muito com o leitor. Este é quem baliza, dá as dicas sobre o que estou escrevendo, ou até mesmo quando me diz que não gosta de ler o que eventualmente trago à pauta. O leitor, em sua observação estética, ajuda o meu pouco submisso coração – que dificilmente consigo revelar – eis que prepondera em mim o intelectivo, até, por vezes, o estrito uso das técnicas do ofício de escrever, forte no fazer poético. Todavia, é a sensibilidade do receptor que procuro atingir, e, para isso, necessito mais do que o meu próprio sentir. Preciso de recursos verbais para que possa atingir o misterioso universo de me sentir dentro do Outro... Curiosamente, no entanto, me apercebo que é no diálogo com o interlocutor que nasce o embrião do texto literário, especialmente na prosa poética, e em cartas e mensagens. Também nos textos tutoriais, que representam como eu concebo o mundo e registro as atribulações do viver. O escriba concebe-se neste emaranhado da criação como um peregrino num terreno árido e neste cava o seu próprio poço de água, que nem sempre é originalmente boa para beber. O desafio é sobreviver...”. Joaquim Moncks, in DO ESCREVER: OFÍCIO E CORAÇÃO.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4407137

– Marilú Duarte, via e-mail, em 28/07/2013:

Somos seres únicos! E o que nos diferencia do outro é a nossa singularidade e autonomia. Mas como acontece esse processo? Não depende apenas da nossa herança genética, mas principalmente do contexto social e cultural de cada um, ou seja, das experiências pessoais vividas, dos valores apreendidos, das atitudes e comportamentos, e principalmente da forma de como se interpreta a realidade. Através da confrontação entre o consciente e o inconsciente, o indivíduo vai amadurecendo os elementos que fazem parte de sua personalidade, unindo-os resumidamente de tal forma que se transforma em um ser único e inteiro. É através desse eixo, que o indivíduo vai reconhecendo a si próprio e conhecendo o outro, retirando suas inúmeras máscaras e fantasias, repensando ideias e principalmente decodificando as projeções antes lançadas no mundo externo. Exatamente como dizes: "... é a sensibilidade do receptor que procuro atingir, e, para isso, necessito mais do que o meu próprio sentir.". Buscar um motivo para existir sempre foi a meta de todos os humanos. Algo que lhe explique o porquê e para que vive. Para a realização do Self, e o apogeu da singularidade, é preciso que o indivíduo não ceda às tendências egocêntricas e narcisistas que o identifiquem com papéis coletivos. Todos nós desejamos atingir a perfeição, entretanto, sabemos que esta é inalcançável, por tratar-se de uma tendência arquetípica, podendo apenas ser representada. Precisamos evoluir sempre, sem ficar impaciente com nossas imperfeições, conscientizando-nos que a espiritualização e a autodeterminação é o caminho. Ninguém transcende sem atravessar as intempéries e as turbulências que se interpõem nesse trajeto. Muito menos se chega ao pódio sem perdas, atritos e infinitos desencontros. Na verdade, a evolução é um paradoxo, porque é um processo que é, ao mesmo tempo, individual e coletivo. Precisamos do outro para permutar experiências e crescer, como muito bem o texto exprime: "Preciso de recursos verbais para que possa atingir o misterioso universo de me sentir dentro do Outro...". Mas, ao mesmo tempo, necessitamos atingir a independência e a maturidade psicológica individual, responsabilidade apenas nossa. O homem nunca está pronto, deve seguir sempre inovando e reconfigurando o existir. Desafiar o novo é uma forma de sobreviver e nos tornar únicos e irrepetíveis. Marilú.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4412467