A PALAVRA FRATERNA

Quando se pretende falar em Poesia é necessário buscar a linguagem da Confraternidade. Porque esta é a plenitude do sentimento amoroso do humano – em sua entrega ao outro – mesmo que o conteúdo com que o poeta o traga à tona seja até abjeto, capaz de provocar indignação ou repulsa. Tem-se a Poesia como algo doce. Ainda que não seja flor, e sim, espinho, dardo, gume capaz de provocar lacerações por sua capacidade de vômito e expressão, especialmente quanto à opressão do valor Liberdade. Tudo que não seja para a construção da felicidade da criatura humana não é da destinação poética... O poema “O bicho”, de Manuel Bandeira, ao retratar a miséria humana e a fome, tem o mesmo sentir: proscrever o que é abjeto. O sofrimento de Cristo, nos mistérios dolorosos, é a representação do que o Amor pode e deve: a absolvição espiritual por meio do sofrer dilacerações no corpo para parir o perdão a si próprio. E mais: por amor ao outro, ao próximo presente ou futuro. É uma pena que especialmente no lírico-amoroso, o naipe feminino, normalmente, veja o amar como possessão, e assim o tente retratar em versos que não vão além do possessivo da paixão. Porque, no amar, o sentir não pensa...

– Do livro FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4451434