Conversando sobre a Poesia.
Por Carlos Sena


 
Muita gente confunde poesia com poema e com prosa. Poema é a forma de construção de uma poesia, principalmente sonetos. Prosa é o texto corrido como que nos dando a impressão que estamos conversando com o escritor. Uma história, um conto, uma crônica, etc., são no formato PROSA. Poesia é mais complexa em seu entendimento. Pode-se, por exemplo, escrever uma bela prosa com poesia. É o que se chama também de prosa poética. Por outro lado, a poesia pode acontecer no formato poema, mas também no formato da prosa nos seus diversos sentidos. Fazer poesia é construir um contexto dentro de um ângulo de sensibilidade que foge ao estilo do óbvio. Normalmente a poesia se encarrega do olhar lúdico, sensível, criativo, bucólico, expressionista, etc. Dizer, por exemplo, que “CD é um presente que toca” desperta a sensibilidade de “tocar” por dentro também tocando por fora. Perceber o claro aonde todo só vem o escuro; perceber o que poucos percebem é função da poesia. Dizer que o principal de um bordado é o seu avesso é de certa forma, poesia. “Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure” – Soneto da Fidelidade, de Vinicius de Moraes, por deveras conhecido do grande público.
Assim, grosso modo, a poesia pode ocorrer até mesmo no falar. Há oradores que falam garbosamente porque inserem poesia em seus discursos. Talvez seja por essa sua característica subliminar e produzida pela sensibilidade que os poetas tem de flagrar o cotidiano de forma diferente que a poesia seja, de fato, muito difícil de ser elaborada. Muitos se dizem poetas porque escrevem frases no formato de poema e julgam ser da poesia. Não passam de prosa curta distribuídas em formato de poema, mas sem muito valor poético. Há quem também atribua a poesia à inspiração. Não defendo esse aspecto. Prefiro crer que o poeta é um artista que faz das palavras seu ofício para flagrar a realidade de forma diferenciada, criativa e sensível. Não necessariamente será preciso inspiração. Como disse João Cabral, transpiração é o que gera poesia (grifo meu).
A poesia dita moderna deixou um pouco o formato SONETO de lado. Os versos brancos, ou os poemas livres tem se caracterizado como próprios destes tempos ditos modernos. A poesia concreta também. Fato é que a poesia se diferencia sobremaneira dos demais estilos literários, acima de tudo pela sua capacidade de flagrar a vida pelos ângulos pouco vistos. Independente de ser moderna ou não, a poesia está dentro de todos – uns quando escrevem e outros quando se deleitam com o que os poetas escrevem.