A Poesia Como Transpiração. (Ensaio)  
Por Carlos Sena 



O senso comum geralmente atribui aos poetas dons inspirativos. Algo como se uma boa poesia fosse produto, digamos, da inspiração. Inicialmente eu também assim compreendia quando, instigado por autores importantes da nossa poesia, comecei a entender a questão da "transpiração" - mais do que a inspiração na obra poética. Algo como "o poeta é um fingidor". Algo como um "ator" que, no tear das palavras se transporta e lhes dá corpo e alma sem, necessariamente, ser dela a alma nem o corpo. Mas o escopo, o cinzel que transforma a pedra bruta das palavras em uma obra de arte que chamamos de poesia.
Ao poeta é peculiar o conhecimento e o domínio da linguagem e da língua. Também compreender que a poesia pode está, inclusive num texto em prosa e que, num poema com métrica e simetria pode não conter poesia. Esta,  como se vê é resultante de um conjunto de significados e significantes que sob o comando do poeta, com muita transpiração, "pare" a poesia muitas vezes a "fórceps". 
A questão da inspiração pode ocorrer, mas não necessariamente. Mas, mesmo esta, acontece sob forma de mote, de tema, para poder o ato criativo se estabelecer com qualidade. A qualidade da poesia vai estar ligada diretamente aos estilos e ao universo cognitivo dos poetas. Porque muitos são os que se dizem poetas, mas poucos conseguem, de fato, flagrar situações cotidianas com poesia. Há quem pense que colocar palavras em formato de verso é fazer poesia. Não é. Como já dissemos, pode-se fazer uma bela prosa poética, porque a poesia é atemporal, extemporânea, anarquista, cheia de formas e estilos diferentes. Parte de dentro dos poetas para se estabelecer como forma de comunicação no mesmo nível das artes plásticas, por exemplo. 
Assim, após um bom tempo de maturação, rendo-me a poesia como produto muito mais da transpiração do que da inspiração. Na prática, os poetas são artesãos das palavras. Muitas vezes um poeta começa seu trabalho com uma idéia e termina sua poesia com outra idéia posta no papal. É como se ele, o poeta, perdesse o domínio das palavras e elas lhe conduzisse no ato criativo.