A SITUAÇÃO CULTURAL E POLÍTICA DO BRASIL

Em épocas de calamidades públicas e de crises profundas, tanto dos valores morais que norteiam as ações humanas no seu quotidiano, quanto da complexa teia das relações interpessoais que permeiam a política de nossa nação, penso que refletir sobre os problemas que o nosso pais enfrenta (além de meditarmos sobre a cultura e a política disseminadas pelo Brasil) é sempre de grande importância, a fim de não nos conformarmos com os absurdos que presenciamos todos os dias. Para não cairmos na mediocridade e na ignorância de uma existência vazia, é necessário que tenhamos coragem para pensar com seriedade o que grande parte das pessoas no seu ir e vir rotineiro não fazem.

Mas, antes de refletirmos e meditarmos com profundidade sobre essa atual avalanche de corrupção que se proliferou no Brasil, precisamos, antes de mais nada, levar em consideração as características do povo e a cultura que já vem sendo difundida durante muitos anos de história de nosso país, uma história cujo legado influencia de forma negativa a vida de inúmeras pessoas sem qualquer consciência de sua própria existêncialidade e de seu ser no mundo.

E também se quisermos compreender tantos escândalos e o caos espalhado pelo Brasil afora, é indispensável que fiquemos a par do que acontece nas relações humanas (se munindo de entendimento para desvelar a complexidade das relações que permeiam os mais diversos ambientes sociais) e, a partir de uma significativa conscientização, procurarmos agir de forma responsável e ética, dando condições e contribuições para que o outro perceba que o que integra uma nação justa são cidadãos comprometidos com a dignidade do próximo, ao invés dos mesmos viverem tão somente em prol de seus próprios interesses.

Ora, a educação é o única maneira de fomentar na consciência de cada indivíduo responsabilidade, ética e cidadania; a educação, também, é o que possibilita que os indivíduos se comprometam em realizar ações que façam diferença no dia a dia de outras pessoas, ações essas carregadas de benevolência, reverência e consideração pela vida humana. Mas, infelizmente, se pensarmos na educação de hoje, percebemos o quanto tem sido profundamente negligenciada, degenerando a capacidade do povo em pensar de forma engajada às situações de seu próprio cotidiano.

Portanto, ao analisarmos atentamente a crise que assola nossa nação, é mais urgente sabermos sobre as práticas culturais, a educação que recebemos e também os valores que herdamos, cujos elementos foram germinados desde o início de nossa história; do que apenas explicar a nossa situação através de um fato específico e corriqueiro de nosso dia a dia, como por exemplo este que tem sido noticiado diariamente nos jornais acerca da corrupção na esfera da política. Pois tal acontecimento é a consequência direta tanto da ausência de educação de qualidade para o povo (submetido a degradação moral e espiritual), quanto da falta de justiça e caráter que há entre os homens que governam a nação.

Para falar a verdade, não podemos pensar em degradação de ordem espiritual e moral sem pensarmos nos ambientes da sociedade que estão permeados de perversão nas consciências individuais, prevalecendo toda sorte de intrigas, bajulação e inimizades sem fim. Quantos escândalos, sujeiras, subornos e depravações não temos presenciado todos os dias através do sensacionalismo de tantos programas ávidos de audiência!

Se o ato de pensar a respeito da condição alienante a qual são submetidos os brasileiros, gera incomodo no coração dos homens do poder (homens envolvidos com a degradação desse sistema falido); e se a meditação a respeito de nossa cultura e de nossa educação produz conhecimento para nos mobilizarmos contra tudo o que atrasa o florescimento cultural da nação, então é imprescindível que os intelectuais, os artistas e demais pensadores semeiem ideias profundas para iluminar a consciência da coletividade.

Do contrário, tanta inteligência e sensibilidade manifestadas por tais pessoas não farão o menor sentido ao serem projetadas por motivos frívolos; e menos ainda se forem usadas para promover mais e mais iniquidades como tem feito tantos políticos intelectualizados, cujo discurso está impregnado por uma retórica vazia (de fato, pessoas que esbanjam muito conhecimento e pouca empatia com o próximo sempre amargam o destino de se perderem no vazio de suas elucubrações e no absurdo de uma vida destituída da prática contínua da caridade!).

Essa degradação a nível coletivo, que tem corroído a dignidade dos cidadãos, já está presente em todas esferas da sociedade, nas quais a impunidade é uma das maiores ameaças à esperança do povo brasileiro, sem falar do cinismo e da hipocrisia que tem contaminado toda a sociedade com seu veneno inebriante, invadindo não só congressos repleto de ''homens bem vestidos e engravatados'', como também as relações humanas presentes em escolas, fábricas, hospitais e demais organizações sociais.

Partindo da premissa de que somos todos responsáveis pela situação em que vivemos, não faz sentido ficarmos somente nessa atitude de culpar com ressentimento outras pessoas por algo que nós também fazemos e, o que é pior, deixar de lado nossa responsabilidade no que diz respeito ao cuidado diário com nossas próprias vidas, como também daqueles que nos clama por socorro. Sendo assim, não adianta sermos bons críticos da política nacional se nossa relacionalidade for motivada por interesse de ganho e status, ou então, vivermos as nossas vidas na embriaguez de relacionamentos vazios, de tal modo que nos perdemos em falatórios e conversas empobrecidas de conteúdos que edifiquem a alma.

Embora tenha consciência plena de que umas pessoas tenham mais responsabilidade do que outras pela miséria moral, espiritual e cultural que infestou o Brasil quase integralmente, não podemos trair nossa consciência deixando a mentira germinar em nosso ser, especialmente quando caímos no vício de culpar os outros pela nossa vida precária.

Mas não é indicativo de mediocridade e falta de caráter aqueles indivíduos que, sem qualquer respeito pelo outro no seu dia a dia, fazerem criticas permanentes sobre as condutas morais dos nossos políticos e de outras personalidades em constante destaque na mídia?

Pois o que essas pessoas estão fazendo para melhorar suas próprias vidas e também a de seus semelhantes? Tal interpelação nos provoca, sem dúvidas, à reflexão incessante a respeito de nossas condutas e comportamentos, sem deixarmos de lado o senso crítico e a capacidade de nos indignar com tamanha depravação no âmbito do poder e da política brasileira.

Quanto mais perdermos a capacidade de nos importar e de nos solidarizar com o próximo, nos afundando no lodo da indiferença e da apatia, mais permissão daremos para as práticas de corrupção se proliferarem na estrutura já fragilizada da sociedade do qual fazemos parte, trazendo inclusive a ruína da justiça, da liberdade e do amor que há entre os homens. E enquanto houver ausência de consciência coletiva para a prática do respeito mútuo e da solidariedade fraterna, todo o pais sentirá os abalos provocados pelas crises, fraudes e corrupções, sofrendo e agonizando com a imundície impregnada na totalidade de sua estrutura.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 22/11/2016
Reeditado em 30/06/2021
Código do texto: T5831193
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