O DOM DO VERBO

No texto poético, o que se percebe é que a fantasia, a farsa, e o sonho são, a rigor, os elementos conceituais formadores de todos os vetores da arte do escrever. O poeta-autor trabalha com o mundo da irrealidade. Portanto, nunca ocorre uma veracidade fática. O que podemos ter é que os postulados da Poesia conduzam à virtuosa e incontestável verossimilhança. A abrangência contextual do verso (e sua consistência) com forte dosagem de veracidade conduz o pensamento à seriedade – veraz – que determinados assuntos exigem. Porque à Verdade ninguém resiste. E o poema ganha em fortaleza quanto à proposta no plano da realidade, não é mesmo? É a palavra em sua grandiloquência de sugestão. Aliás, o dom do chamamento verbal, além de outros formatos escriturais, de maneira igualitária quanto à intensidade, reside tanto no mais singelo poema como em peças contendo alguma complexidade de conteúdo. Daí a fortaleza da palavra do bom e fiel intérprete: produzir efeitos no plano da realidade. Nada como ter poetas-leitores que sabem das coisas, recriando a proposta poética. Inda mais por terem o dom do verbo replicado. Dependerá de sua entrega à sugestão contida no poema, de sua oralidade e versatilidade corporais, o efeito que comoverá ou não a plateia. O intérprete é sempre o arauto da boa-nova lírica, que docemente pode produzir a alegria ou a dor.

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/17.

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