O Presente e a Presença


Presentear é talvez um dos mais antigos hábitos sociais da humanidade. Presentear significa marcar a presença a algum lugar, com algo que no futuro trará esta presença à memória. Dar um presente significa dizer à posteridade: estive presente!
 
A presença é tão importante que deve ser lembrada por muito tempo depois. A presença é o principal, o presente o acessório. Modernamente, no entanto, envia-se o presente e dispensa-se a presença. “Ele não veio, mas mandou um presente”. O presente substituiu a presença! O acessório substituiu o principal.

Agora, olhe para si próprio. Quantos presentes você dá a si mesmo! Carro novo, viagens, jantares, uma casa na praia, emprego novo, uma tarde no futebol. A própria sociedade e a propaganda o incitam a presentear-se: “compre isto, compre aquilo!” E você compra, usa, vende ou descarta, mas continua infeliz! Por quê? Porque você se presenteia, mas não se presencia.
 
Presenciar-se, estar presente em si próprio é o principal, presentear-se é o acessório. Presentear-se sem presenciar-se é como “mandar” um presente para você mesmo. “Eu não tenho tempo, e talvez, nem coragem, para estar comigo mesmo, mas me dou presentes” O vazio que não abandona você, mesmo quando você se enche de presentes, tem um significado: a falta da Presença! Só presentes não bastam.

Estar presente em si, significa estar consciente de si, estar com a atenção focada nos vários veículos que compõem seu ser: seu físico, suas emoções, sensações e sua mente, sem julgamentos ou autocrítica.
 
Dos veículos superiores, de natureza espiritual, que também compõem nosso ser, a grande maioria de nós ainda não tem consciência, porque estão fora do alcance de nossa mente concreta. O acesso a estes veículos só será possível se a presença em si mesmo for incondicionalmente e permanentemente praticada.

A consciência só pode alcançar os níveis superiores, se começar por galgar os degraus inferiores. Se hoje mal temos consciência de nosso corpo, de nossos sentimentos, de nossas sensações e de nossos pensamentos, como podemos imaginar ser possível ter consciência da Centelha de Luz Divina que reside em nossos corações? Dizem as religiões: “receba Cristo no coração”. Ele já está lá! Só temos que ter a consciência disto. Mas não podemos confundir sentir e pensar com ter consciência dos sentimentos e pensamentos. São coisas muito diferentes...
 
Exercite, pois, a Presença Íntima: volte sua atenção para si mesmo. Coloque-se como observador de seus pensamentos e emoções, identificando-se, não com elas (“pois eu não sou meu corpo, minhas emoções, minhas sensações ou meus pensamentos”), mas com algo que consegue observar tudo isto “de fora”. Este algo tem a ver com seu Eu interior (“Eu Sou meu Deus Interior”).
 
Ao exercitar a Presença Íntima, você perceberá que apenas o que é verdadeiro permanecerá; o que é ilusório desaparecerá. Angústias, medos, mágoas, e quaisquer outros sentimentos ou sensações negativas, não resistirão à Presença Íntima. Seus pensamentos descontrolados se calarão, quando você os observar, como se calam os futriqueiros quando, de fora, alguém os observa.
 
Ao estarmos presentes, socialmente, fortalecemos nossos laços de amizade. Ao estarmos presentes, conosco mesmos, em Presença Íntima, fortalecemos nossos laços com nosso Deus íntimo. Cada momento de Presença Íntima é um presente nosso para Deus; é um avanço no caminho de nossa missão verdadeira: o crescimento interior!
Roberto Guelfi
Enviado por Roberto Guelfi em 04/06/2018
Reeditado em 31/07/2021
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