SOBRE A AMIZADE (VERSÃO AMPLIADA)

É sempre bom discernirmos quais são os valores pelos quais precisamos adornar o nosso ser, a fim de sabermos avaliar uma boa amizade, antes de cairmos numa grande confusão ao ponto de chamar de amigo um mero conhecido que não merece receber tal consideração.

Amizade, de fato, é algo muito mais profundo e delicado...ela, portanto, vai muito mais além do que a relação que mantemos com aqueles que são nossos colegas de trabalho ou, o que é pior, nossos companheiros de festa e de diversões, pois além da responsabilidade propriamente dita, é importante que exista: a fidelidade, a empatia, a confiança, a generosidade e, o mais imprescindível de todos, a intimidade das almas.

A amizade, que também não deixa de ser uma das formas mais sublimes de amar (a sua etimologia pode nos ajudar a entender) não tem nada haver com relações de conveniência, tão típicas de nosso tempo esvaziado de afeto, lealdade e solidariedade! Requer, certamente, grande dedicação por parte daqueles que tem como meta perpetuar uma relação das mais belas e verdadeiras.

Para o propósito de me aprofundar nessa reflexão sobre a amizade, ressaltarei um maravilhoso versículo da Bíblia, escrito no livro de Provérbios atribuído ao rei Salomão, no qual está expresso perfeitamente o sentido de se cultivar uma amizade pura e singela: "O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.'' (Prov: 17:17). Concordo plenamente com essa passagem da Bíblia... Para falar a verdade, existem amigos que, ao irradiarem de seu ser as fragrâncias de uma profunda espiritualidade, vivem em incrível sintonia e comunhão...existem, de fato, amigos que fazem questão de serem intimamente próximos, sem permitirem que o vínculo (capaz de os manterem unidos e perseverantes) se enfraqueça através das mais tolas vaidades.

É muito fascinante acompanhar a trajetória da relação daqueles amigos que conseguem, através de um convívio prolongado e amadurecido pelo tempo, manter um vínculo mais fraternal do que até mesmo algumas relações de irmãos consanguíneos, estabelecendo uma confiança digna de inspiração e admiração por parte daqueles que não sabem como agir de maneira cordial e fraterna.

E o que dizer daqueles casais, cuja relação é forte para fazer prevalecer, junto do amor erótico e da paixão, uma amizade e um companheirismo que os ajuda a não desistirem um do outro diante das dificuldades da vida? É certo dizer que nenhum matrimônio consegue se manter de forma plena se não houver também o componente da amizade, uma amizade que favorece a confidência, a admiração, a paciência, a lealdade, a gratidão e a reciprocidade em todas as esferas da intimidade.Para esse momento, não deixo de evocar a beleza de um verso expresso por um dos mais sábios da antiguidade, um verso inspirador para quem cultiva uma boa relação: "As muitas águas não podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam." (Cantico dos canticos 8:7)

A amizade mais pura e singela, portanto, é aquela sobre a qual não está presente qualquer manifestação de persuasão e, tampouco, a indiferença com a dor alheia que faz com que o amor de muitos se esfrie, até porque quem valoriza o seu semelhante, é capaz não só de se solidarizar com as suas dores, como também é capaz de deixá-lo livre para ser quem ele quiser ser, ainda que não concorde com todas as suas maneiras de agir, de viver e de ser. Na amizade autêntica, na amizade permeada de sinceridade, sempre estará implícita a dádiva singela do amor (philia), guiando duas almas abertas ao diálogo sem reservas e à mais íntima cumplicidade.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 27/02/2019
Reeditado em 27/02/2019
Código do texto: T6585422
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