"Se eu não for por mim mesma, quem o será?"

Outrora, quando me deleitava

com a imagem refletida,

O espelho me devolvia

o rosto moldurado pelos cabelos loiros

onde o brilho do sol eu via.

Hoje, pálida imagem o espelho me mostra,

tento esconder a teimosa lágrima,

procuro a moldura do meu rosto,

mas nada encontro,

só me assombro,

com a minha expressão de desgosto.

Sei que ainda tenho nos olhos,

O brilho de quem luta pela vida,

mas não deixa de magoar,

abrindo mais a ferida,

ao me ver assim, sombra de quem

andava pelos caminhos a desfilar.

Mas não sou só aparência,

tenho alma,

tenho coração,

tenho ainda a decência

que me levanta quando a dor me joga no chão.

Não posso esquecer,

sou uma guerreira,

lutarei até o fim para vencer,

mesmo que esta hora,

agora,

seja a derradeira.

Sendo mais verdadeira,

Eu amo viver,

E não vou me entregar,

até que meus olhos venham cerrar

fechando a cortina de uma existência,

com muitos momentos para recordar,

de quem viveu,

sofreu,

amou,

cresceu

e não se entregou.

Partirei porque chegou à hora,

sempre repetindo a expressão,

que marcou meu coração:

“Se eu não for por mim mesma, quem o será?

E se eu for por mim somente, o que serei?

E se não agora, quando?" - Rabi Hilel Mishana

(Dedico este poema a uma pessoa especial Dr. Carlos, oncologista do Hospital Araújo Jorge - de quem recebi não só tratamento, mas a esperança de viver. Eu me sentia velha com os meus 24 anos, era o peso da doença, mas ele sempre repetia Rabi Hilel Mishana e mostrava outros pacientes em piores situações. Foi assim que ganhei forças para sobreviver - embora aquela pessoa de outrora tenha morrido naquele leito do hospital).