O VERSO NA PONTA DA LÍNGUA

“DO ESPANTO

O aceso verbo na língua não morre nem perde sua eficácia, ainda que, por vezes, pareça sem eloquência.”

Joaquim Moncks.

“Para mim o verbo sozinho não diz nada.

Por exemplo: Ele é... É o quê?”

– Humberto Miranda Barcellos, pelo Facebook, em 05/08/2020.

Entre um chimarrão e outro, amado amigo Bulica, concede que eu aduza algo que talvez possa ajudar no esclarecimento da metáfora em voga: "o verbo", constante em Do Espanto (acima), que me parece um poema contendo razoável proposta de reflexão. Como bom professor de matemática que és, parece-me que, pelo que foi colocado em tua interlocução, ficaste somente na composição gramatical do escrito, o que se compreende usualmente na Prosa, na linguagem em sentido denotativo, e não em Poesia, na qual o poeta-autor recorre às figuras de linguagem, especialmente a metáfora, constatando-se a poética assentada no conotativo da linguagem, graças à subversão do sentido original da palavra, dando-lhe nova roupagem e sentido bem diverso ao dos anteriores significantes e significados. O conjunto verbal que aparece na postagem é um poema, o qual representa a materialidade do gênero Poesia. Portanto, o " aceso verbo na língua", verso que aparece no poema em causa, pode ser traduzido por “aceso verso na língua”, mudando-se apenas a palavra verbo por verso, ou seja, o que equivale a dizer-se: a expressão textual poética ganha realce no textual. Cumpre-se, assim, a função de sugerir a reflexão sobre o conjunto verbal, buscando clarificar o poema, vale dizer, procurar entender o que se está a dizer, e é, naturalmente, a decodificação do que está posto no corpo da peça poética. Deste modo, o verbo ou o aceso verso (a poética na boca do declamador, do recitador, do leitor de si para si mesmo) não morre nem perde a sua eficácia, ainda que por vezes pareça sem eloquência. Grato por tua interlocução, a qual induziu-me a "abrir um pouquinho" o poema, ratificando "o espanto", ou seja: a surpresa gozosa que a fenomenologia da Poesia causa, por vezes, em nossos neurônios e nos remete a algumas descobertas no emaranhado do universo das imagens, às vezes plásticas, e, noutras, de momentâneas e volúveis imagéticas. Há, portanto, para os poetas, uma singular rotina a seguir: cautelosamente singrar nesse maremoto de sons e ritmos, atentando para eventuais surpresas do inquieto mar do arquipélago das palavras.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 03. Obra inédita, 2015/20.

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