O Ego se Retroalimenta
 

Grande parte das disfunções mentais são resultantes do estresse causado pela recorrência dos pensamentos, sensações, emoções e sentimentos negativos insidiosos e degradantes.  As manifestações negativas em qualquer esfera, quando não contidas, têm o condão de se multiplicar, como células de um tumor, até provocar a sua própria destruição. Assim é com a mente humana.
 

Os pensamentos negativos provocam emoções negativas que refletem de volta outros pensamentos negativos carregados com as emoções negativas do primeiro ciclo. Estes, por sua vez, vão alimentar emoções mais potentes que exacerbam a negatividade dos pensamentos no ciclo seguinte. E assim por diante, num vórtice descendente incontrolável.
 

Os pensamentos positivos têm a mesma propriedade de fazer brotar uma espiral – agora virtuosa e ascendente - geradora de paz, compreensão, generosidade e compaixão, todos estes, sentimentos associados ao Amor Universal.
 

É a retroalimentação do ego que pode conduzir a um círculo vicioso ou virtuoso, dependendo de como ele é inicialmente alimentado.  O ego se retroalimenta porque corpo, mente e emoção são reflexivos. Cada um destes componentes do ego reflete os impactos que ocorrem nos outros. O corpo sente os impactos emocionais e vice-versa; a mente interage com o corpo emocional, num diálogo onde um determina o comportamento do outro.


Quando uma atividade negativa, exacerbada e recorrente, se desenvolve em qualquer destes corpos, físico, mental ou emocional, uma reação em cadeia crescente é disparada, levando ao exaurimento da capacidade de suportar o estresse decorrente, ou seja, levando à doença.
 

Quando o processo de deterioração crescente do equilíbrio entre corpo, mente e emoção é interrompido pela observação (apenas observação) consciente sobre a atividade do ego - atenção plena nos pensamentos, emoções e sentimentos - (1), o equilíbrio tende a se reestabelecer. Ocorre que, corpo, mente e emoção, agora objeto de vigilância, voltam-se para o foco da observação  - que habita um patamar superior ao ego - deixando de interagir reflexivamente, cessando, assim, o processo de retroalimentação.


É como se três irmãos, disputando um brinquedo, cada um agredindo o outro cada vez com mais violência, notassem a presença do pai, à distância, que apenas observa. A simples observação do pai atrai a atenção das crianças cujo ímpeto da violência é inicialmente reduzido, retrocedendo a escalada da contenda, para finalmente transformar em esquecimento os motivos que levaram a ela.

 

O exercício da Vigilância do ego sem repressão (1) - "mindfulness", para algumas práticas meditativas ou psicoterapêuticas - quando permanente, é o hábito mais saudável que qualquer pessoa pode desenvolver, pois todos os demais se submetem a ele.


 

(1) Veja ensaio do autor neste Recanto: A Entidade da Fronteira