Perdão:
Fruto do Amor ou Moeda de Troca?

 

O perdão, no consenso geral em que costuma ser empregado, é o resultado de uma avaliação racional do contexto que envolve o ofensor e o ofendido; é a concessão de uma “anistia” a quem comete uma ofensa qualquer contra nós. Ele é concedido à luz dos interesses de quem perdoa:
 

Te perdoo porque não quero perder tua amizade”; “te perdoo porque se não o fizer estou pecando diante dos ensinamentos do Cristo”; “te perdoo porque não quero conviver eternamente com este conflito entre nós”; “te perdoo porque dependo de você para minha sobrevivência física ou psíquica”; “te perdoo porque um dia posso precisar do teu perdão”.
 

O perdão “concedido” torna quem é perdoado um devedor, um refém de quem perdoa: “você me deve uma!”  É uma mercadoria de troca. Se outras ofensas ocorrerem, a dívida vai se acumulando, até o ponto em que perdoar se torna impossível.
 

O verdadeiro perdão é um atributo do Amor consciente: ele não pede nada em troca, ele é incondicional. O perdão incondicional perdoa por compreensão, por compaixão e por empatia, independentemente de existir ou não uma ofensa. O perdão verdadeiro é um reconhecimento, a priori, de que no plano da personalidade somos todos diferentes, e de que no âmbito da consciência estamos todos em momentos diferentes do nosso processo evolutivo.
 

Essas diferenças entre as pessoas podem completá-las ou afastá-las, mas não definem o certo e o errado, o bem e o mal, o bom e o mau. Ofensa é o nome que damos ao que não nos agrada na atitude de outra pessoa em relação a nós; é o resultado de um julgamento que tem por base a subjetividade de nossos paradigmas psicológicos, culturais, familiares, religiosos, entre outros.
 

O perdão incondicional reconhece que o que me agrada ou desagrada é resultado do conjunto de características da minha personalidade; portanto, é uma questão que diz respeito exclusivamente a mim; assim como, a atitude que julgamos ofensiva no outro é o resultado do conjunto de características da personalidade dele; portanto é uma questão que diz respeito exclusivamente a ele.
 

O perdão incondicional reconhece que na essência, no espírito, somos todos iguais. Quanto mais percebemos nosso Eu Superior, mais nos identificamos com os demais seres humanos, pois o Eu Superior é a centelha do Uno espargida na Criação. Cada gota do oceano contém as qualidades de todo o oceano.
 

Quando se alcança esse nível de percepção, como julgar o próximo, se somos todos iguais?