UM OLHAR PARA A MORTE E A FINITUDE

  Podemos pensar a nossa passagem pela sombra da morte como um caminho para o desconhecido, para o incerto ou até mesmo para o novo. Fazer tal reflexão pode causar um certo espanto, temor ou até mesmo inquietude porque nos coloca diante do mistério e nos permite pensar no sentido das coisas e no sobrenatural.

   De fato, não deixa de ser a nossa melhor reflexão na vida, talvez o maior despertar de consciência, pois passamos a dar valor em cada momento de nossa existência, evitando as frivolidades e as futilidades da vida social das massas com sua sede eufórica de consumo desenfreado; ou melhor, nos afastando desse meio para o qual inúmeras pessoas são impelidas sem avaliarem para si se foi edificante ou não para a constituição de sua própria individualidade.

    Pensar em nossa finitude e mortalidade faz com que aprendamos a cultivar os fugazes instantes ao lado de nossos entes queridos por um determinado tempo (nunca deixando de dar a melhor demonstração de afeto àqueles que um dia não estarão do nosso lado) e, principalmente, nos prepara para as dores inevitáveis das perdas, dos lutos e do envelhecimento que rodeia nossas vida e de outros seres.

     Hoje, a morte se tornou, ao contrário do sexo, um grande tabu; um verdadeiro problema para muita gente. Falar sobre ela deve ser evitado a todo custo, quando na verdade deveria ser pensada com todo cuidado, sapiência e esmero. Desde que nascemos, os seus efeitos estão em nossa própria existência e na de nossos semelhantes.

      Se muitos buscam parecer inabaláveis na juventude, por outro lado, se deparam inevitavelmente e de forma angustiante com o término de vida de seus animais, familiares e outras pessoas próximas. Ora, antes de falarmos de sexo 24 horas por dia e, o que é pior, muitas vezes sem relacioná-lo ao amor entre dois seres (afinal, é por meio dele que o ser humano gera um novo ser), já somos confrontados de antemão com a finitude, na qual está mais do que atuante e presente nesse mundo, nos mostrando que não podemos permanecer prepotentes até o fim de nossos dias. A morte certamente chegará para ensinar que aquilo que era a razão de nosso orgulho e vaidade também se finda e perece. 

     Mas, com o passar do tempo, de um jeito ou de outro, cresce naturalmente em nós (pelo menos é assim que deveria ser!) a responsabilidade pela nossa própria vida, através do qual somos chamados a nos preparar para a finitude e o morrer, sendo tal preparação o caminho mais assertivo para um existir autêntico. É daí que advém toda a nossa seriedade; e que, por sua vez, faz germinar a nossa sabedoria de vida; a vocação para a espiritualidade; a solidariedade pelo nosso próximo; a perpetuação de nossa família coroada pelo sentido de união; e todo significado de viver na plenitude da comunhão e do amor.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 14/04/2024
Reeditado em 14/04/2024
Código do texto: T8041540
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