OFÍCIO DE ESCRIBA

– entrevista a Selmo Vasconcellos, jornalista carioca residente em Porto Velho/Rondônia – fundador da Academia Momento Lítero Cultural: http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/

1. Quais as suas outras atividades, além de escrever?

Formado em 1976, milito na advocacia. Tenho especialização em Direito Penal. Atualmente, estudo Direito Autoral, sempre pensando na proteção de meu colega escritor. Pelo país, há muita incidência de fraude contra os direitos do autor. Por ter método próprio para a elaboração do texto, em Poesia, realizo oficinações poéticas onde sou chamado a atuar. Já ministrei cursos de 40 horas - aula para poetas em formação e professores, em Campo Grande/MS, em Salvador/BA e em várias cidades do RS. A minha “cachaça braba” é o associativismo literário. Desde 2003, exerço a coordenação nacional da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS NACIONAL, a qual possui 74 Casas de Poetas em 19 Estados-Membros da federação brasileira.

2. Como surgiu seu interesse literário?

Desde muito cedo, na escola primária, quando eu tinha 07 anos, a partir da recitação um soneto de meu pai, Joaquim Moncks, poeta bissexto. Aliás, adotei o nome dele, na literatura. Comecei a rabiscar poemas a partir dos 11 anos de idade, quando já estava no início do ensino médio. Sempre li muito, de tudo um pouco, mas assumi a literatice (mistura de literatura com peraltice) poética, publicando os primeiros textos, aos 21anos. E nunca mais parei, sempre experimentando, moldando, esculpindo os poemas, os quais, a rigor, nunca estão prontos, porque os poemas são feitos de matéria viva. E já vão mais de quarenta anos de curtição poética.

3. Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?

De 1973 até 2005, entreguei ao público sete livros individuais, no gênero Poesia: ENSAIO LIVRE (plaqueta), 1973; FORÇA CENTRÍFUGA,1979; ITINERÁRIO (?), 1983; O EU APRISIONADO, 1986; O SÓTÃO DO MISTÉRIO, 1992; O POÇO DAS ALMAS, 2000, e OVO DE COLOMBO, 2005. Tudo o que publiquei em prosa estava disperso em mais de uma centena de antologias e coletâneas, editadas no país e no estrangeiro. A partir de março de 2006, dediquei-me à confecção e maturação de um livro em prosa contendo cartas, mensagens e prosa poética, com o título CONFESSIONÁRIO - Diálogos entre Prosa e Poesia, Porto Alegre, Alcance, 312 páginas, publicado em novembro de 2008. A existência do Recanto das Letras – site para escritores – cujo link de acesso é http://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks , tem me estimulado a publicar crônicas, contos, prosa poética, artigos, ensaios, pensamentos, cartas e mensagens, nos quais perpassam o fogo poético e a tentativa estética da contemporaneidade formal. No referido site já publiquei mais de setecentos textos. Trabalho, desde novembro de 2004, nos textos do livro BULA DE REMÉDIO, poesia, que neste junho de 2009 contempla 83 poemas, e que tem previsão de publicação para 2010.

4. Qual o(s) impactos que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura?

A literatura, e muito particularmente a Poesia, é a transfiguração da matéria da vida. Tudo o que ocorre no dia-a-dia pode ser transmutado em prosa e verso. No entanto, a fonte mais permanente e profícua é o estado de espírito em que o escritor se encontra. Estados pessoais em que prevalece a angústia, a aflição e a profunda tristeza, como usualmente ocorre nas relações amorosas, são os mais ricos para a produção textual em Poesia. Peço licença para anexar um poema em que discuto a fonte do poema:

FADA – MADRINHA

A fonte do poema nunca é a alegria.

Esta é a própria poesia personificada,

a fada-madrinha viva, resoluta, saltitante:

o olho além da órbita, dentes além da boca.

Afinal, recados pro coração são sempre lágrimas

entre o confrangimento e o sorriso encabulado.

Poemas são, apenas, olhos do coração,

e ambos são chorões por sua própria natureza.

O sangue, líquido e escondidinho,

navega por caminhos impensáveis.

Passeia no compasso dos afetos.

Em ti e contigo, amadinha,

existe uma confidência

a que não estou acostumado:

sei que falas a voz profunda

dos aflitos, mas não a dos sem-Deus,

e estes são pequenos,

perderam-se faz muito tempo...

– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p.24.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/23271

5. Quais os escritores que você admira?

Admiro inúmeros escritores, clássicos e contemporâneos, principalmente os que relatam suas impressões em crônicas de época e costumes, como ocorre com Victor Hugo, Proust, Virgínia Woolf, Alexandre Dumas, Cesar de Beccaria, Maquiavel, Joyce e Thomas Mann. Meu maior respeito, em Poesia, vai para Charles Baudelaire, Camões, Shakespeare, Edgar Allan Poe, Ezra Pound, T.S. Elliot, Pablo Neruda, Rainier Rilke, Bertolt Brecht, Gregory Corso, José Régio e Ary dos Santos. Benedetto Croce, Octavio Paz, Adolfo Casais Monteiro e Massaud Moisés, são os meus preferidos na crítica literária. Nas letras brasileiras, admiro Augusto dos Anjos, Geir Campos, Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana, Thiago de Mello, Walmir Ayala, Lara de Lemos e Lya Luft. Fernando Pessoa, o genial português, é o meu predileto, e cuja obra, como um todo, é a que mais me impressiona, principalmente pela revelação e palavra de seus heterônimos.

6. Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?

Ler muito, tudo o que chegar às mãos, em quaisquer vertentes, temas e estilos. Ler e tentar entender o que está subjacente ao texto. DO NADA NASCE O NADA. Quem não tem o hábito da leitura nunca chegará à Poesia, apenas fará versos, a não ser que seja exemplar de genialidade. E nasce apenas um gênio, em cada idioma, a cada milênio. É o que diz a historiografia. De posse do que foi adquirido pela leitura, escrever muito, em cada hora que lhe for possível. Para se chegar à Poesia é necessário ser-se um permanente experimentador da Palavra. E, segundo Stéphane Mallarmé, em lição de meados do século XIX, Poesia se faz com palavras e não com sentimentalismos. Estes são, apenas, o objeto da tradução pela palavra, principalmente na poesia lírico-amorosa. Por fim: o novato deve saber que a criação poética tem dois momentos, o da inspiração e o da transpiração. No primeiro momento, quem governa é a inspiração. No segundo, é a razão que fixa a forma definitiva, a que vai andar no mundo, sugerindo o belo estético e a lição da verdade poética, o subjetivismo do pensamento do alter ego do autor, principalmente em Poesia.

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2009/2009.

http://www.recantodasletras.com.br/entrevistas/1631020