Entrevista concedida à Câmara Brasileira de Jovens Escritores - CBJE, publicada em 30/09/2008

Quem Sou

Eu me chamo Jean Jackson de Lima e Silva, sou natural de Afogados da Ingazeira – Pernambuco, uma cidade do Sertão do Alto Pajeú, da qual me orgulho muito por ser uma terra de gente batalhadora e feliz, pessoas que fazem parte da história brasileira, levando, para o mundo, grandes partes de cultura e vida. Moro, atualmente, na Cidade do Gama, Região Administrativa do Distrito Federal. Aqui, sou feliz, porque foi o lugar que escolhi para os meus novos trajetos, para a construção dos meus dias melhores. No entanto, sinto saudades de todo contexto da minha vida de outrora, apesar de não perder jamais a minha essência, sou alguém diferente, hoje, pois “a vida longe de casa” nos ensina a dar outros passos que nos fazem acertar e aprender mais com os erros. Enquanto vida profissional, tive algumas frustrações e sinto que, ainda, preciso encontrar o caminho mais acertado. Escolhi, diante de algumas circunstâncias, a formação em Letras, talvez para seguir os passos de grande parte da família ou, até, por me interessar deveras pelo conhecimento oferecido nessa área. Não digo jamais ter me arrependido de ser letrado, pois, com essa formação, pude aperfeiçoar a vontade de escrever. Sempre trabalhei na área da Educação, mas tenho sonhos e projetos diferentes, os quais fazem parte das minhas orações sempre que deito a cabeça no travesseiro, a cada noite. Com o nascer do sol, sinto-me mais forte de novo e reinicio a caminhada para o sucesso, pois “sou um duelo permanente entre o desejo de ser e os limites do acontecer, sou alguém que sonha, projeta, realiza... Ou não realiza... Mas, sobretudo, alguém que, sempre, retorna ao eixo, onde se encontra o desejo infinito de recomeçar”.

O Dom de Escrever

Sem dúvida alguma, a arte de escrever é um dom, presenteado por Deus. Assim como tantos outros dons que já estão acoplados à própria existência do ser humano. Nascemos com o dom e vivemos cada dia para ele e por ele, porque eles refletem a nossa essência. É como se fosse a nossa missão aqui na Terra. Mesmo que esses dons não façam parte da nossa vida em integralidade, por qualquer motivo que seja, eles são quem nos apresentam ao mundo, são a nossa referência e a nossa verdade maior. O dom de escrever, em especial, é algo que me encanta, pois, em sua diversidade de comunicação, é o dom de mostrar-se completo para o mundo, de falar a língua da alma, sem nenhum impedimento. Meu interesse pelas brincadeiras com as palavras surgiu quando elas, propriamente, desafiaram-me, aguçaram, talvez, esse presente de Deus para mim.

Perfil de Escritor

Cada pessoa que escreve, desenvolve, a cada experiência, um perfil que a acompanha no futuro. A arte de escrever é como contar as estrelas no infinito. Há uma imensidão de um espaço sem fim e cada estrela representa uma possibilidade, uma idéia, um mundo de emoções. Cada um possui o seu jeito de unir as palavras, seja para apresentar a sua verdade ao mundo ou, simplesmente, deixar florescer as quimeras da sua imaginação. Os meus escritos possuem um contrato com a minha alma sentimental. Escrevo sobre os meus dias e noites de tempestades ou sobre a brisa suave que traz o sentimento da calmaria, após o vendaval. Nesse contexto, diria que “sou alguém que enxerga as cores fulgentes do amor, mesmo quando os desmazelos das decepções desfocam a resplandecência da sua propriedade incondicional. Com a minha poesia, quero sair em busca desse espaço interior que transborda da minha verdadeira integralidade, não me deixar domar, temer quando o grito da liberdade soar dentro de mim. Quero escapar por alguma brecha e correr livremente em frente, brandindo minha inquietação refletida na ânsia de fazer aflorar o sentido de viver”.

Autores que Admiro

Seria um “pecado poético” citar escritores ou poetas preferidos, diante de tão grandes talentos que conheci. Imaginem quanta poesia, quanta emoção e quanto sentimento pude ajuntar nos quatro anos de faculdade, na tortura deliciosa de estudar Literatura e ler tantas obras exímias de inclinações poéticas perfeitas. São tantos nomes, tantas histórias que deram leves toques na minha alma ou fizeram um verdadeiro reboliço no meu coração. Guardo cada lembrança, cada verso, cada rima e procuro, a cada dia, ser, pelo menos, uma gota nesse oceano.

A CBJE na Minha Vida

Apesar de, sempre, ter me envolvido com a arte de escrever e de gostar disso, não faz muito tempo que historio poesias. Comecei a juntar as primeiras palavras nas rimas de um poema há bem pouco tempo, foi, mais ou menos, no final de 2006. O primeiro foi um soneto intitulado “Teu Abraço”, o qual escrevi para uma pessoa que me despertava muitas emoções quando juntávamos os corações no nosso “abraço de cuidado”, como exprime o poema. Ao escrever esses primeiros versos, tive a impressão de flutuar em um universo novo que, ao mesmo tempo, parecia conhecer muito bem. Era como se estivesse caminhando entre as flores de um magnífico jardim, cheio de borboletas e pássaros, era a sensação de estar no paraíso. Conheci a CBJE por um escritor e poeta que já participava das eletivas e que já possui várias obras publicadas. Conversávamos sobre trabalhos poéticos e ele, ao conhecer, o meu trabalho, de forma polida, criticou-o, disse que eu estava sendo muito “evidente” e que a poesia não precisava “dar satisfações ao leitor”. Embora chateado, concordei, no final! E me senti desfiado para mudar o meu estilo, sem deixar de lado a minha essência já estabelecida. E escrevi “O segredo das Borboletas”, um poema que acho lindo, principalmente, pela subjetividade desenvolvida nos versos. Esse, também, foi selecionado pela CBJE, entre outros, o que vive a massagear a minha auto-estima. A CBJE é de fato, hoje, uma grande incentivadora dos meus projetos de poesia.

Aos Poetas Calouros

Uma vez ouvi da minha professora de Gramática da faculdade Socorro Dias, a quem devo muitos conhecimentos de hoje, algo que nunca esqueci e que sempre repito quando tenho oportunidade: “O mundo precisa de leitura, seja como for! Se você gosta de ler revistas de esporte, leia! Se gosta de histórias em quadrinhos, leia! Se prefere romances, leia! Trace o seu perfil, mas seja, também, um leitor. Pois, quem lê abre os horizontes e se torna mais vivo e detentor de uma verdade própria.” Não me recordo se foram usadas essas palavras, exatamente, mas isso foi o que aprendi com aquela aula sobre leitura. Assim, esse é o meu conselho: Seja original! Seja persistente! Seja vivo! Seja leitor... Explore o seu dom de escrever, não tenho vergonha das primeiras palavras embaralhadas. Essa é a essência da idéia! Escreva sobre tudo e tudo o que vier à sua mente. O depois é mais gostoso. É só ajeitar! Puxar daqui, puxar dali e a surpresa de que você, também, é um grande poeta! Sucesso a todos! Sintam a poesia...

Instante breve, um pouco de mim

O mundo poderia parar, naquele momento... As lembranças de um instante muito breve, de uma relação perfeita e contraditória poderiam transbordar um contentamento platônico e eterno.

Porém, por vezes, tive tentações de apagar da memória os quadros mais plásticos ou, pelo menos, sombrear as cores mais vivas e cintilantes dessa obra inigualável na exuberância que as afoitezas da minha imaginação lançaram aos relevos daquelas inesquecíveis cenas... Foi o medo, pois, de eternizar essa tal antítese de emoções, que me afugentou do abismo dessas sensações.

Então, deveria eu sacrificar a inquietação dos impulsos da minha paixão? Impedir-me de fazer aflorar as ânsias de sentimentos tão sublimes, mesmo que adornados à utopia de uma reciprocidade que bateu à porta, mas, jamais, cruzou o hall de entrada?

Talvez, valha a pena viver cada instante de lembranças, mergulhado num inquietante surto súbito de um contentamento de sentimentos vazios, inseguros, insólitos; entornados num vago desejo, quase, desesperado de um estado pleno de êxtase e completude que jamais virá.