NUM TEMPO SOMBRIO

Vivemos, pois, num tempo repleto de sorrisos sem ternura, de olhares e de fisionomias tristonhas, e de palavras cortantes e amargas como foices implacáveis que dilaceram qualquer chance de uma resposta amigável e cordial. Vivemos num tempo de contrastes em cada quarteirão, e em cada rua por onde passamos (pois se de um lado nos deparamos com moradores de rua esbanjando indigência, do outro lado vemos ao longe homens que desfilam as suas riquezas como se fossem os deuses da terra). Vivemos num tempo onde a desolação está estampada em olhares que buscam inutilmente demonstrar alegria e otimismo, em olhares que buscam esconder a opacidade de suas almas. Vivemos num tempo de multidões absortas na adoração de seus ídolos culturais vazios de conteúdos edificantes. Vivemos num tempo sombrio onde tudo precisa ser fugaz e relativizado. É um tempo no qual o homem se aproxima de outro homem apenas para satisfazer os seus caprichos mais grosseiros. É um tempo de completo esvaziamento e pauperização afetivo-existencial, cujos valores advindos da modernidade líquida são medíocres e superficiais.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 21/06/2018
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T6370120
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