ESCLARECIMENTO GRAMATICAL: eu, nós, plural de modéstia e forma impessoal

1º - Eu (primeira pessoa do singular): é fácil.

Exemplo: "Quem sou eu" expressa uma ideia clara, mas alguém acha pedante. "A Metodologia Científica não gosta e recomenda a impessoalidade." Sendo polido, mas relutante, o redator recorre apenas ao plural de modéstia nós.

2º - Nós (plural de modéstia da pessoa que está falando): não é fácil.

Exemplo: "Quem somos nós" é uma frase que tem modéstia, mas diminui a clareza e vai precisar do contexto para saber quem é. Cuidado, que o certo é dizer: "Nós, como revisor de texto, somos metódico" (e não: Nós, como revisores de texto, somos metódicos).

3º - Nós (primeira pessoa do plural, que se refere a um só grupo): é fácil.

Exemplo: "Quem somos nós" é uma frase clara, usada quando se refere especificamente a "nós", como determinada empresa, instituição, etc. O certo é dizer: "Nós, como revisores de texto, somos metódicos" (e não: Nós, como revisor de texto, somos metódico). Outro: "Nós, que estudamos 'futurologia', sabemos um pouco do dia de amanhã".

4º - Nós (no sentido coletivo ou impessoal): é fácil.

Exemplos: "Nós, mortais humanos, nunca sabemos o dia de amanhã"; "Nós, como revisores de texto, somos um tanto ou quanto sugestivos". Caso o pronome nós fique subentendido (elíptico), a lógica também fica valendo: "como revisores, somos sugestivos".

Dificuldade. O emprego de um desses pronomes vai requerer certo manejo da linguagem quando se encontrar com o outro — principalmente se o redator escolher o plural coletivo nós (todos os seres humanos genericamente ou nós, todo ser humano) e tiver de usar nós (outros seres humanos como parte ou grupo desse universo) e ainda se colocar ele mesmo pelo meio, como exemplo do caso, querendo ser modesto e usar o plural de modéstia nós. Portanto, "o pronome nós vira nós de corda".

5º - Forma impessoal ou impessoalidade tem seu modo clássico na partícula se como índice de indeterminação do sujeito (exemplo: "aqui se faz, aqui se paga, vende-se um carro") ou na forma apassivadora ("a conta foi recebida, o carro já foi vendido").

Utiliza-se também sujeito indeterminado com o verbo na terceira pessoa do plural, caso em que não se sabe ou não se quer dizer quem é o sujeito (exemplo: "falaram mal do chefe").

Sujeito indeterminado pode ser ainda usado nas locuções "convém... ou convém que..", "é urgente... ou urge que...", "parece que..." "é preciso... ou é necessário..." (como em "é urgente fazer reforma", "é preciso navegar na Internet".

Pronome indefinido (quem, alguém, ninguém) nomes coletivos e outros meios ainda ajudam a fazer a impessoalidade.

No caso da partícula se, o conflito de uso já vai ser entre o se (indeterminante do sujeito, como na frase "Faça-se a luz"), o se (pronome reflexivo, como em "ele se machucou") e o se (conjunção condicional, como em "eu só vou se você for").