HAIKAIS

Noite de primavera...

Rimamos sob a luz

da lâmpada suave...

Terceira idade.

Sinto o afago branco

do tempo...

no jardim de nuanças

vou eu e minha querida,

feito crianças...

Onde semáforos

contemplam tediosamente

as nuvens rosas.

tarde de domingo -

as horas tricotam luz

nas varandas quietas.

mesmo num papel

o meus pensamentos voam -

ventos outonais.

temporal noturno -

aquela árvore frondosa

abraçando os céus...

a estação tristonha

despetala um malmequer

-

as lembranças voam

nas paisagens sonhadoras -

folhas outonais

Caminho

com uma sombra triste

em meu passado...

Céu de outono.

um galho morto

mapeia meu destino.

Ventos de primavera.

Danço contigo

num perfume de rosas...

Beijo-te

como se fosses

a minha própria cruz...

De repente,

num simples despertar,

eu te perdi...

Aspiro perfumes

que já foram

daqui...

vento nas violetas -

é o que lembra o rodopio

vão das borboletas.

E os dias

serão poemas

na arca do silêncio meu.

Festa de Ano novo.

Mais uma estrela caída

numa taça.

Voarei

tendo por asas

os teus braços.

Abraço

como um espantalho

a solidão...

Gotas chuvosas

como reticências

nos chãos...

Sobre a poeira que restou

ainda escrevo

teu nome.

Os dias

como borboletas vagas

num jardim.

Pétalas voadoras

na melancolia da tarde

enquanto tu choras.

Nós dois de mãos dadas,

vestindo-nos o cordão

das horas douradas...

Sob os céus de anis

nós dois colhemos flores

de um dia feliz.

notas musicais

na pauta do horizonte -

aves matinais...

Há sombras

que apenas os crepúsculos

recortam...

Asas reluzentes,

depois de cessados

ventos e torrentes.

A certa altura

meus passos cansados

contam degraus do céu...

Páginas perdidas

descrevendo manhãs floridas

aqui e ali...

Vagos matizes...

Pingos sobre folhas secas...

Lembranças felizes.

Frágil poema

que de cordas rompidas

deixei...

As flores vermelhas

roçando mais uma vez

minhas telhas...

Na casa vazia

as cortinas cerradas

lembram mortas fantasias.

Vejo sol

abrindo páginas de luz...

Poesia matinal.

Tédio das vidraças

contemplando céus cinzentos

feito fumaça.

Auge das flores,

onde choro incessantemente

velhas dores...

Triste adeus

feito estrela perdida

riscando céus...

Pescador de estrelas

sobre ondas tranquilas

içando velas...

As folhas mortas

vindo riscar agora

as minhas portas...

Como o vento

que recorda longamente

antigas paisagens...

Tua carícia

feito brisa perfumada

fazendo-me voar...

As folhas murmuram

sobre úmidos chãos

velhos poemas...

O vago luar

contornando como um sonho

nosso caminhar.

Quando me leres

uma folha morta

já serei.

Nas persianas azuis

o luar faz versos

rimando luz.

Tarde de outono.

O vento varre

nossas últimas pegadas...

Cartazes velhos

onde sorriem alegrias

desaparecidas...

Num amanhecer antigo

nós ceifamos juntos

o nosso trigo.

Abrindo a estação

as janelas emolduram

manhãs de verão...

Folhas passadas

acarinhando levemente

a minha alma.

Velho beiral

chorando na manhã quieta

pingos de cristal.

A flor no portão

é a mesma que beijaste

na último verão...

Um dia

serei poeira

esperando o vento soprar...

Momento hilário,

em que um abrir de cortinas

desmancha um cenário.

O triste sentido

na lágrima que pontua

o bilhete lido.

Ramos estrelados,

no final de mais um dia,

e nós abraçados.

Na tua presença

minha sombra ajoelhada

baixa a asa de uma alma.

Noite de insônia.

conto silenciosamente

estrelas passadas...

As colinas distantes

ainda rumorejando

um velho poema...

Resta-me indagar

sobre quantos horizontes

troquei num olhar.

Tolo sonho meu.

Mas toda vez que te penso

uma asa vai ao céu.

Lembrança que estala

na arca do silêncio meu.

E quase fala.

Sombras colossais...

As máquinas põem carbono

nos dias iguais...

Um dia,

no teu caminho

ainda renascerei...

Refloresces

num sorriso aberto

para o céu...

Final do dia.

Os teus braços abertos

como flores sem laços...

Aspiro essa paz

de árvores nas serranias

e asas no céu lilás...

Virtudes mortas

quando nas portas

do céu...

Ventos de verão

soprando escombros

da antiga ilusão...

No pasto ensombrecido

meu cavalo solitário

pisca os olhos tristes.

Noite de núpcias.

Somente a luz de vela

ainda nos separa...

Chapéu caído

sobre o olhar galanteador,

descança o sonhador.

O momento pleno

que a vitoriosa abraça,

em prantos, o sereno…

Volto à casa muda,

onde um tapete gasto

ainda me saúda...