OFERENDA ( a minha Companheira)

Ofereço-te esse meu sacrifício

É um holocausto simples e sem pompa.

Tive meu templo invadido, meu altar saqueado,

Arrombada minha arca, levaram dela todos os meus tesouros

–os mais caros, raros e ternos.

(aqueles que eu havia pretendido guardar somente para ti)

Aceita, ainda assim essa minha oferenda pobre

Tão desprovida de pompa liturgica!

Não há incenso nesse amor que te ofereço

Porque minhas aras foram tombadas, meu turíbulo está partido!

Aceita o bruxuleio dessa lâmpada decadente e esmaecida

Porque a chama da pira foi apagada e o óleo derramado.

Beba dessa taça de barro esse vinho vinagrado com fel

É tudo que sobrou da minha vindima sabotada

Sê tu, pois a pedra angular do meu equilibrio

A mais perfeita de todas as vigas do novo templo que erigirá

Dos escombros do anterior destruído.

Fazei comigo um altar de esmeraldas

Onde eu me prostarei para reverenciar

Esse teu afeto inexcedível e comedido

Que nada me pede nem me dá.

Farei do seu silêncio e do seu canto

Uma antífona para celebrá-lo!

Por acréscimo da tua bondade e do teu amor inquestionável

Eu te rogo: Salva-me!

Salva-me da vileza que afronta minha alma!

Não há culto que me salve, não há credo que me redima!

Apenas tu haverá de ajudar-me a sorver o amargo dessa taça

Nas noites de medo e frio quando o abandono gritar à minha porta

Quando uma espada de remorso encostar contra o meu peito

E em silêncio eu gritar desesperada e desesperançosamente

Por um abrigo que você dificilmente poderá me dar

E o passado retornar trazendo consigo seus espectros.

E a vida me parecer muito mais

Inútil do que vazia, a morte se insinuar risonha

E novamente eu ver abalados os alicerces

Do templo.

Marcos Aurelio Paiva
Enviado por Marcos Aurelio Paiva em 27/11/2008
Código do texto: T1305891