Conjecturas da Velha Lisboa

Do meu eterno trono de pedra e sal

Jamais tenho eu dele me levantado

As minhas mãos muito brancas de cal

Ímpios, reis, nobres e santos hão já beijado.

E aos meus pés inamovíveis de granito

Os povos e seus impérios hão já curvado

Meu poder enfim extendeu-se ao infinito

E meu cetro e rigor já lhes hão castigado.

Não sei se sou hoje como eu fui já antes;

Meus becos já foram o meu sexo adúltero

São minhas veias as ladeiras abundantes

São meu sangue milhões de pés andarilhos

E me espanto por ainda que não tendo um útero

Fui a ama, a rainha e a mãe de tantos filhos!

Londres, 27/07/2011

Marcos Aurelio Paiva
Enviado por Marcos Aurelio Paiva em 26/07/2011
Reeditado em 27/07/2011
Código do texto: T3121036