O Poeta Aníbal de Freitas

Naquela época não havia internet nem computadores e escrever era com as próprias mãos ou, na melhor das hipóteses, com uma máquina Olivetti. Divulgação, só mesmo recitando ou em cartas aos amigos. Nada de e-mails, blogs ou sites especializados.

Foi assim que o conheci: recitando poemas no Postinho de Saúde. Entre a dispensa de medicamentos e um cuidadoso curativo, lá vinham versos bem inspirados. Aníbal de Freitas foi na vida: sapateiro, responsável pelo Posto de Saúde local e um grande poeta. Frequentou escola durante quatro dias e aprendeu a escrever e ler com o pai, em casa.

Fez como Drummond, lançou palavras ao vento. Mas, lá pelas bandas da sua Cachoeira do Brumado, distrito da cidade de Mariana, corria uma brisa bem leve e os belos versos não foram ouvidos muito longe.

Tinha o sonho de lançar um livro com poemas, que acabaram saindo numa edição do Programa cultural de Ouro Preto chamada “O Poeta e o Contexto- Cachoeira do Brumado”, em outubro de 1981. Aníbal, então com 72 anos, não gostou muito da edição que abordava vários aspectos da vida no distrito e apresentava algumas das suas poesias. Queria um livro só dele, um livro só de poesias, como bem o merecia.

Transcrevo aqui, um dos seus mais belos poemas datado de abril de 1972:

“Adeus Cachoeira”

“Adeus, terra que me viu nascer

de gente ingrata, que não agradece o bem.

Muitos já partiram só para morrer,

chegou minha vez de partir também.

Não deixo saudades a ninguém

pois sempre fui de poucos amigos,

talvez, leve saudades de alguém

mesmo que sejam meus inimigos.

Sempre procurei fazer o bem:

estendi a mão ao inimigo,

espero em terra estranha encontrar alguém

A quem possa chamar de amigo,

e ao transpor os umbrais do além

encontre alguém para chorar comigo.”

Mas estava enganado! Todos no Brumado sentiram sua falta, saudosos da voz que no pequeno lugarejo, recitava versos feitos de sonhos e lampejos.

Se estivesse vivo, hoje estaria com cento e cinco anos e, com certeza, ainda espalhando seus versos pela ruas de terra do seu Brumado.

Ouro Preto, 21 de junho de 2015.

Luiz Walter Furtado e Aníbal de Freitas
Enviado por Luiz Walter Furtado em 21/06/2015
Reeditado em 05/04/2021
Código do texto: T5284901
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