RELEMBRANDO...lembrando..”.folheando minhas provas com avaliações escolares no “primário “, usando raspas de lápis de cor, com as capinhas pintadas à mão,esfumaçando cores, formando símbolos criados pela sua imaginação”...

 

Como esquecer sua figura frágil e elegante, chegando na escola interrompendo a rotina, com pratinho de mingau feito na hora, coberto com paninho de prato alvejante branco, pedindo a professora que me dixasse comer na cozinha, justif icando que eu não tinha me alimentado suficientemente, preocupada com minha saúde sustentável, e com isso provocando risinhos zombeteiros das crianças da classe, e ao mesmo tempo me deixando alegre constrangida”...

 

Aos domingos, fielmente nos levava à missa, e no dia de coroação de Nossa Senhora, me vestia delicadamente de anjo, com asinhas de penas, me postando em comum acordo com a igreja, num dos degraus da escada solene que levava ao topo da Santa homenageada, e emocionada ao ver sua garotinha assim tão megestosa, chorava discretamente... e acompanhando a procissão nas ruas, seguia-me na calçada, e em alguns trechos a gravei , também chorando silenciosamente...”

 

Em alguns momentos de alguns dias, sentávamos na soleira da porta, e ela descascava laranjas doces em tiras, e nos umedecia, como se no bico alimentasse passarinhos...”

 

E em algumas noites, quando ainda madrugada, acordávamos já saciados do sono, ela preparava um adorável chocolate quente, e sentámos os treis à mesa, degustando sem pressa, às vêzes acompanhado de bolinhos de chuva...”

 

E os incríveis biscoitinhos de polvilho doce, que criava com maestria, derretiam na boca. Quando eu saia para brincar ou andar de bicicleta, enchia meus bolsinhos com eles, e comia-os no percurso, feliz da vida...”

 

E os vestidinhos que me vestia ao passear?...esvoaçantes e delicados, e que não satisfeita em me ornamentar, bordava rococós perfeitos, formando florzinhas colorida.s..”

 

Como esquecer?, quando às vêzes ao passar da tarde, ela abria o baú de madeira, onde guardava vários e vários livrinhos de histórias, e ensaiava contando, como num teatrinho domiciliar, imitando falas dos personagens, a maioria de Monteiro Lobato, e acompanhávamos atentos, vivenciando-os no imaginário”...

 

Porém, num certo dia irrelevante, ante seus pulmões fracos e leves, despontaram duas enormes asas, uma de cada lado, e ela, totalmente alheia à sua vontade, num impulso sem gravidade, voou! Eu com nove anos e meu irmão com cinco, certamente para uma dimensão de muuuita paz, fora desse mundo, dimensão esta, com certeza, chamada AMOR...”

 

Percebes? Essa persona era minha mãe, que chamávamos em todos os momentos “mamãe”...

 

Repetindo a frase popular “para morrer basta estar vivo”. Acrescento: “para sobreviver também”.

 

Nesse dia tão especial, dedico , compartilhando, a todas as mães -mamães!