A MÚSICA DO MUDINHO

Acontece cada coisa nos botequins da vida. Em Cafundós, assisti um causo que me propus a contar. A crise econômica veio acompanhada do desemprego, meu primo foi dispensado d’uma metalúrgica no sul, arrumou as trouxas e voltou para escapar nas bandas de nós. Com pouco dinheiro montou uma birosca, vendia pinga, cerveja e espetinho de gato. Como brinde a clientela ouvia sucessos do passado na vitrola de fichas. Cornélio começou a bebedeira cedo, já havia ingerido uma dúzia de cervejas e deglutido avidamente uns dez espetinhos, com a boca cheia de língua pediu: - Oh meu! Põe a música do mudinho. – Que música do mudinho é essa? Indagou o birosqueiro. – Sim, a música do mudinho, quando cheguei tava tocando e se não tocar agora, saio sem pagar a conta e ainda quebro a mesa, as cadeiras e as garrafas. O bodegueiro com medo do prejuízo solicita: - Como você ouviu a música quando chegou, cante um pezinho da letra... O bebum inicia a cantarola. - Porque qu’eu fico calado, quando ocê me diz...