Gramado, Gramado!

Nada mais curioso do que observar a falta de equanimidade no desenvolvimento social tomando como exemplo o extremo oposto. Extremo oposto de Gramado e o Extremo Sul. Quais os fatores que determinam algo de evolutivo sobre outra realidade totalmente estanque? Quais são os fatores que determinam o sensacional e extraordinário desenvolvimento da adorável serra gaúcha? Em Gramado não existes semáforos, preferem o inteligente recurso das rotatórias. A cidade continua sendo um grande canteiro de obras. Brotam hortênsias, plátanos e até lagoas em pleno centro urbano.

Para o garçom do Café Clericot o grande desenvolvimento se deve a excelentes administrações. Gramado vive sem inquietações políticas. A cidade é um espetáculo de equanimidade. Um verdadeiro pólo estético. Há bom gosto em tudo, mesmo com um número insignificante de livrarias. Não localizei nenhum sebo e a palavra parecia soar como agravante técnico num primeiro mundo inusitado. Todavia o espírito gramadense é a alma do progresso gaúcho.

Conversando com outro garçom ao terminar o macarrão ao suco lhe dei parabéns dizendo.

- Avancem, tomem o Rio Grande do Sul. Ocupem todos os cargos!

Ele sorriu contente, alvissareiro e me deu um bom desconto na massa para o meu sorriso sem guardanapo. Comi todos os acepipes e lambi todos os cremezinhos da entrada. Meu velho poeta Luiz Fonseca vai rir a beça.

Por outro lado considero entre chopes as razões de tanto desenvolvimento em questão com a necessidade apurada de análise. Estudo contra a riqueza mesquinha e sem inventiva criadora. Análise do massacre social do latifúndio avaro. Medicamento contra o monoteísmo bárbaro do lucro social da minoria. Finalmente contra o manancial da criação de violência urbana oriundo do sistema rural do agrotóxico para maior alcance de mercado. Tudo vai de encontro ao progresso.

Quem visita Gramado logo compreende o quanto o sonho civilizatório superou todo o feudalismo até hoje vigente no país agrário da especulação bárbara. Do Hotel Recanto da Serra de onde escrevo estas humildes palavras totalmente grátis desfruto uma nova geografia onde o trabalho venceu a fábrica de opressão. Espero que o espírito gramadense domine o Rio Grande do Sul até o carnaval dominar o espírito quadriculado, porque ninguém é de ferro.