Coxinha e o trem

Corre, corre..., locomotiva

Venha dar sua saudação

Mandar embora a saudade

Parar aqui nesta estação!

Os viajantes partem de Piracicaba para a Capital pelo trem de bitola larga da Companhia Paulista, seus vagões azuis contrastam com o marrom da terra correndo por debaixo dos trilhos. O apito ecoa na estação de Piracicaba. O movimento acelera o coração do bairro. Um riso grudento escancara na boca dos trilhos. O trem movimenta a sua barriga ronronando pelo chão feito um gato de ferro. Os passageiros sentam a espera do encontro secreto, através do passeio e a beleza do caminho!

Lara e Mara ouvem a pulsão eletrizante da locomotiva diesel-elétrica U-9. Exploram juntando as mãos, como em oração, a parede tremulante do vagão. Reconhecem a U-9 pelos ensinamentos do avô, também chefe do trem.

Na estação da Luz alguém da família as aguarda.

Lara retira um lanche feito por sua mãe, logo a seguir. Mara a repreende e questiona a sua fome, afinal a composição ainda se movimenta no pátio da estação em Piracicaba. Lara diz que o tremor a faz ficar faminta. “Pode ser as lombrigas querendo comer umas as outras”; satiriza a irmã, mais moça.

Uma sacola de lanches foi preparada pela mãe. Um aviso: “Fritei cinqüenta coxinhas, vocês podem comer umas cinco as outras quarenta e cinco levem para a vovó.”

Perto de Jundiaí, Lara abre o saco contendo as coxinhas e devora uma, duas, três..., enquanto Mara dorme.

O trem acelera e Mara acorda. Olha pela janela e vê a máquina em disparada roncando na curva. Acorda com fome e pede uma coxinha. “Nem pense, a mãe recomendou para levarmos quarenta e cinco para a vovó.”

Sonolenta, Mara demora a entender que a irmã já comeu as cinco propostas pela mãe. Mesmo assim come uma, duas, três...

Corre, corre..., locomotiva

Venha dar sua saudação

Mandar embora a saudade

Parar aqui nesta estação!

A Estação da Luz desponta no horizonte matinal da capital paulista. O edifício com seus 150 metros de comprimento de fachada resplandece ao sol! Sua torre de 50 metros de altura, se mistura com o infinito. Inicia assim, um diálogo encantador entre a sua arquitetura e os viajantes.

Iracema espera as sobrinhas no amplo pátio da estação. Abraços, beijos são trocados pela tia beijoqueira. Lara para se livrar do abraço apertado apela para o saco de coxinhas. “Tia; pare! Vai amassar as coxinhas.” Tira o saco da sacola de lanches, já vazia e o estica para a tia.

Iracema abre o invólucro e encontra uma única coxinha. Sem entender Mara olha assustada e fala:

“Lara! Onde foi parar as outras quarenta e cinco?”