MEU VÔO INESQUECÍVEL!

Como vocês devem se lembrar, há anos caiu um avião aqui em Fortaleza, e o povo cearense como humorista que é foi logo apelidando de Viação Aérea Serra de Pacatuba, por causa do local da tragédia. Nesta época eu me encontrava em Curitiba e três meses após tive que retornar ao Ceará. A família Saddock em peso tinha ido me deixar no aeroporto, desconfio que era pra ter certeza que eu ia mesmo viajar, quando um dos meus primos apontou para aeronave e disse:- Olha que coincidência, você viajar na Viação Aérea São Paulo! E agüente brincadeiras e alusões ao acidente ocorrido, a essa altura eu já estava entrando em pânico, mas demonstrar, jamais!

Hora de embarcar. Não sei se vocês sabem, mas há vôos que parecem ônibus, com paradas (escalas) em todos os cantos! Esse não era exceção: Curitiba-São Paulo-Rio-Brasília-Fortaleza. Sentei na primeira poltrona que encontrei na minha frente, agarrei firmemente nos seus braços e só descobri meu medo quando a comissária passou por mim, parou e perguntou: Você está bem? Sorri amarelo, agradeci e me disse: - Calma, está tudo bem! Resolvi passar o tempo fazendo o que mais gosto, ler. Tirei da minha bolsa um romance de banca, e adivinhem o que fui logo lendo na primeira página? A história da busca de um avião que tinha caído numas montanhas! Apavorada fechei o livro e voltei a me agarrar nos braços da poltrona, era mais seguro!

Ainda bem que o vôo era curto. Passamos para uma aeronave maior e logo me veio à lembrança as palavras de minha mãe: quanto maior, maior é o tombo! E isso lá é hora para recordações? Sentei ao lado de uma freira que tranquilamente rezava o terço.

Fui logo pensando:- Se essa porcaria cair me agarro com essa freira e vou com ela pro céu, nem que não queira! Como ela não era de muita conversa, mas de rezar, fui ficando tranqüila: Deus estava protegendo aquele vôo! A boa irmã saltou em Brasília e por causa dos meus pensamentos profanos, Deus resolveu brincar um pouco comigo: Sentam-se ao meu lado uma senhora com um bebê de colo e uma menina de uns 5 anos.

Aí começou meu castigo: o bebê chorava, a menina gritava, cantava, a todo o momento queria se levantar... Com uma meia hora de vôo a senhora, querendo puxar conversa, foi logo me dizendo: tenho tanto medo de avião! Ora aquela altura eu já tinha era ódio, ódio de voar, de crianças, de tudo! Quando a garota conseguiu ficar quieta resolveu olhar pela janela e ficou aos gritos: - Olhe mãe, as nuvens! Nós estamos no céu? Cadê Deus? E aos berros: - Mãe, eu quero ver Deus! Eu quero ver Deus!

E eu, com meus botões: - Pentelho vá ver Deus sozinha, que eu não vou nem a pau!

Depois de 8 horas (sim, isso mesmo que você leu: oito) de vôo, a aterrissagem, minha família a me esperar foi logo perguntando: - E aí, como foi a viagem? E eu, irônica: - Inesquecível! Tremendamente inesquecível!

Francylene Barreira Maia

Fortaleza,15/09/2006