CONFESSO QUE MATEI
Matei
Com uma entaladela
Quem me queria matar a mim.
Matei
Com gana o bicho,
A traça,
A galga furiosa,
Desenfreada acoria
Essa louca cinorexia.
Matei
Com uma bucha
O rato que roía
Na barriga a dar horas
Essa grande lazeira.
Matei
Com força a fraqueza
A sôfrega larica
Simplesmente grisa
Cara larota
Essa esganada rafa.
Matei
Para não ser morto
Impiedosamente
E sem remorsos
A penúria do estômago.
Matei
E matarei
Talvez já daqui a umas três horas…
***************************************************
20.07.2003 Adolfo Dias
Poema feito numa fase de minha vida em que andava entusiasmado em recolher palavras e expressões da gíria popular da minha região, acabando por fazer este textos usando, com algum humor, os sinónimos que encontrei da palavra "fome"...
Abílio Henriques