A MELHOR INVENÇÃO DO DIABO: CHIFRES!

Minha mãe sempre dizia que chifres era invenção do diabo, e eu acrescento: sua melhor invenção! Quem não teve ou um dia terá? Claro, chifres é o melhor remédio para quem sofre de baixo estima!

Tive meus dois, três ou mais, porém o que me marcou mesmo foi o meu primeiro!

Malditos chifres, doeu pra caramba, benditos chifres que me ajudaram a crescer.

Não sei se vocês já notaram, mas quem tem propensão a chifres desenvolve um radar particular: a insegurança! Foi esse meu caso, enchia o cara de meu benzinho pra cá, meu amor pra lá. Ligava várias vezes ao dia, miava (quem nunca miou, por favor, atire a primeira pedra) perguntando: benzinho, você me ama mesmo? Coitado, até que suportou bravamente, bem que eu teria merecido esses chifres antes.. Até que um belo dia o que eu tanto temia, esperava e quem sabe queria, me nasceu uma bela galharda no meio da minha testa! Dessas lindas, frondosas, doloridas que carreguei por muito tempo cheia de orgulho! De orgulho sim porque vivia, comia, dormia e falava em função dos meus galhos! E como falava. Coitados dos meus amigos, quantas e quantas vezes me ouviram contar chorosa e orgulhosa a história dos meus chifres. Tudo bem que alguns acabaram se afastando de mim na época, mas podia jurar que tinham ciúmes dos meus galhos!

Nunca, mas nunca mais poderia amar tanto assim. Desenvolvi um ódio mortal a qualquer pessoa que viesse me contar dos seus chifres que foram maiores ou doídos dos que os meus, isso eu não poderia suportar!

Benzinho casou, engravidou a mulher e eu lá curtindo meus chifres. E vocês não vão acreditar, eu que fazia tudo para o benzinho, pois não é que agora ele que fazia pela mulher? Contaram-me que até as calcinhas dela ele lavava! Será que a maldita tinha auto-estima? Dizem que quem tem isso não leva chifres nunca!

Será? Eu que não sabia afinal a única coisa que me interessava era regar meus galhos com minhas lágrimas!

Quando mais uma vez eu me olhava no espelho (adorava me sentir uma heroína de novela!) notei que não tinha uma marca, uma única marquinha na minha testa! Ao mesmo que meus chifres caíam ao chão fui criando vergonha na cara, poxa, o cara já tinha casado e engravidado outra mulher e eu sofrendo e chorando por quem não merecia? Não tive dúvidas: tomei um banho bem demorado, me arrumei toda, sai me sentindo poderosa e acreditem, nessa mesma noite, eu que não poderia mais amar tanto assim me apaixonei novamente!

Depois de meses perdidos nesse sofrimento foi que cheguei à conclusão que maior do que a dor dos chifres é do orgulho ferido por ter sido trocada por outra. Que toda pessoa que possui auto-estima baixa merece chifres, para aprender a se amar primeiro e não amar ao outro mais do que a si mesmo, e que a insegurança é a chave do fracasso!

Fortaleza, 7 de Março de 2011

Obs: Esse conto me surgiu depois de uma conversa que tivemos em casa sobre traição. De galho em galho (opa!) conseguimos ser as mulheres fortes que somos hoje.

Chifres, nunca mais!