CASAMENTO DA REALEZA E DA POBREZA

Recordar é viver. Assistindo o casamento da realeza, cavouquei a memória e relembrei um casamento da pobreza. Cafundós mil novecentos e não me lembro o restante. Meu avô homem trabalhador, mas de pouca posse, resolveu festejar o casamento da filha caçula. Contratou um trio forrozeiro, comprou uns três ou quatro litros de brejeira, convidou parente e amigos para a comemoração. Minha avó mestra da cozinha regional preparou o famoso baião de dois acompanhado pescado, servindo aos convidados. Para fritar o peixe a velha reservou um copo com óleo de cozinha. A casa era pequena para tantos convidados. Um entra e sai da moléstia. A banda tocava, a cachaça servida e a alegria reinava. Zeca da tia Tônia um diarista etílico de primeira linha encontrou o copo com óleo, pensando ser aperitivo ingeriu de um só gole, o efeito foi uma tragicomédia, o bebum sentia dores abdominais agudas, contorcia e suava frio. A casa do vovô desprovida de latrina, as necessidades se faziam numa moita nos fundos do quintal, haja o bebum amarelar de tanta cólica. Dado momento, a prega pseleutica foi rompida e o custipio rajado de matéria fecal desceu na perna da calça, a impressão produzida no olfato pelas emanações voláteis invadiu o ambiente. Meio ao ocorrido à festa transcorreu alegremente. Não sei se por força do destino ou adiantamento, sete meses depois o casal recebeu seu primeiro rebento.