E agora José?

Todo mundo já ouviu falar destas previsões que existem por ai a respeito do fim do mundo. Eu, por exemplo, ouço isto desde que me conheço por gente. A audácia dos adivinhos e premonitores é tanta, que desta vez ousaram em determinar até data e o horário para o grande apocalipse. Muita gente chegou a se preparar, alguns intensificaram suas orações, súplicas e fé, outros foram para as montanhas, construíram para si verdadeiras fortalezas, que acreditavam ser capaz de suportar a qualquer tipo de big bang que eventualmente pudesse ocorrer no planeta. Houve pessoas que foram capazes de, crendo cegamente no final do mundo, protagonizar as mais absurdas estripulias, como por exemplo, contratar financiamentos caríssimos e longos para viajar pelo mundo, outros estouraram vários cartões de créditos ao mesmo tempo. Teve gente que se demitiu de seus empregos, mandando o patrão às favas.

O Abelardo, um sujeito que eu conheço, e que recebeu o carinhoso apelido de belo, este é o rei do mico. Ouviu dizer que o mundão véio sem porteira iria acabar, entrou no primeiro boteco, comprou uma garrafa de cachaça, sentou na calçada e tomou de canudinho. Após uns quarenta minutos, lá estava ele cantando: Esta noiti hic... eu quiriiiia qui u hic... mundo acabassi hic... i qui a minha muié hic... me perduaaaassi, hic... hic... e meu patrão hic... si danassiiii. Lá pelas duas da manhã, resolveu ir pra casa. O Belo mora a bem pouco tempo em um conjunto habitacional, onde todas as casas são absolutamente iguais. Sóbrio, o moço mal se lembra de seu endereço imagine mamado. Após andar muito pelo bairro chamando cachorro de cacho e mamona de madona, ele mirou em uma daquelas casas e pensou: pode ser a minha. Engatou uma primeira e foi na fé. O problema é que deu um tropeção, caiu de quatro e arrombou a porta com a cabeça. Quando abriu os olhos, viu bem na frente do seu nariz, um par de botinas daquelas do tipo bem te vi usadas pelos trabalhadores da construção civil.

Abelardo pensou to ferrado: Se for o Ricardão, pelo tamanho do pé deve ser parente do Maik Tyson. Más não era o dito cujo, Abelardo só havia entrado na casa errada, que fica três ruas depois da sua. O cidadão pegou o Belo pelos fundilhos e pela parte de traz do colarinho, jogando - o, na rua como se fosse um saco de batatas. Este quase foi o dia do fim do mundo para o Abelardo.

Esta história de fim do mundo ainda vai dar muito pano pra manga, um sujeito resolveu descarregar todas suas frustrações e pensou: Vou viver a vida nestes últimos dias que me resta. Chegou atrasado ao emprego e ainda deu um pé na b... Do patrão, pegou a grana da indenização, comprou uma passagem de avião e voou para o Japão, pois queria ver o seu time do coração ser campeão, o mundo não acabou e só agora viu o quanto é vacilão, sem emprego e sem noção e ainda com um monte de carnê pra pagar a prestação.

E o pobre do José, sujeito de boa fé, este tá desanimado, por ser ele muito honesto foi dormir preocupado. O mundo vai acabar, quero estar com o nome limpo, chamou a mulher do lado e combinaram o seguinte: vamos vender o que temos pagar tudo o que devemos, e assim fizeram. O Zé vendeu a carroça e o cavalo pangaré, que eram sua ferramenta de trabalho, vendeu a casa que morava a qual demorou quarenta anos para possuir, com muito trabalho e suor, pagou tudo o que devia depositou o restante de seu dinheiro em uma conta bancária de alguém que pedia para ajudar aos menos favorecidos do pólo Norte. Depois o Zé foi dormir tranqüilo e pensando... Agora o mundo pode acabar. Más o mundo não acabou, e como dizem por ai: O José tá na roça, e agora José?

(Idal Coutinho)

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IDAL COUTINHO
Enviado por IDAL COUTINHO em 01/06/2015
Reeditado em 01/06/2015
Código do texto: T5262158
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