O batizado.

Pensem numa pessoa que não entende nadinha de nada de missa, padre, coroinha e essas coisas...Eu !

Precisávamos batizar a nossa segunda filha, Verônica, e fui até a paróquia de São Benedito, a do bairro, e marquei o dia e o preço a ser pago , que não era tão pouco para os nossos parcos recursos, acerto para o dia da celebração.

Quando chegou o santo dia, a família foi até a igreja, nenê embalado no colo, familiares próximos, tudo muito simples e arrumado, cabelinho penteado, melhor roupa, as mulheres de salto alto, e toda aquela pompa...De pronto notei que se tratava de uma missa habitual, com um monte de gente desconhecida, e outros casais ( na plateia), com recém-nascidos tão embalados quanto a nossa pequena filha.

As palavras do pároco entravam por um ouvido e saiam pelo outro, quase ao mesmo tempo, eu estava ansioso para que aquilo acabasse logo, aquela ladainha pachorrenta no mesmo tom, e interminável, num senta e levanta sem sentido algum, ajoelha e levanta, e as beatas cantando com fervor quase cômico, e aquilo se arrastava...e nada de batizar, quando em certo momento passou um sujeito com um grande "coador de café" ,de cetim vermelho, de fila em fila, e quando passou por mim, não tive dúvidas, coloquei o dinheiro da batizado lá dentro.

A minha cunhada que estava ao meu lado, junto com a minha esposa, me perguntou em sussurro ; " Você já acertou o pagamento " ? - " Sim, acabei de colocar naquele coador vermelho", apontando para o famigerado usurpador. - " Você não fez isso..." ! - " Claro que sim, não é para isso que serve " ? E entre risos e murmúrios de indignação, avisou os demais membros do clã, que para a minha surpresa, ficaram apavorados.

Se antes era só eu quem não prestava atenção à missa, agora mais ninguém, então me ocorreu uma ideia ainda mais idiota, a de ir buscar o dinheiro, que nesse momento estava na frente do altar, o coador jogado aos pés do padre, um absurdo, e eu não conseguia tirar os olhos dele, onde estava o meu pagamento ao meio das esmolas.

Me levantei e pelo corredor central, fui lentamente em direção ao altar , me abaixei e comecei a fuçar dentro do bendito coador, com muita seriedade e calma, para que não parecesse um assalto, cena hilária, digna de Mr. Bean, e o padre me olhava sem entender o que acontecia, mas eu parecia um funcionário da paróquia , um daqueles voluntários dominicais, então disfarcei e peguei o que consegui, menos do que havia depositado, mas algo razoável. Voltei pelo mesmo corredor central, com cara de santo, e a minha família estava que não se aguentava, um misto de espanto, e riso quase incontido.

O batizado aconteceu depois da missa, e quando as freiras vieram me cobrar, com aquelas castas fisionomias, lhes disse baixinho que já havia pago , depositando no coador, por nada entender , e lhes dei uma pequena bonificação de agradecimento, então se entreolharam muito sérias, e batendo nos calcanhares, saíram sem dizer obrigado.

O comentário do dia, quando saímos de lá, uma atrapalhada sem tamanho, se eu já tinha fama de desligado, naquele dia batí o meu próprio recorde, havia sido surreal, riram muito, e até hoje comenta-se em família.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 03/06/2015
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